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    Silvia Corrêa

    Gravidez psicológica leva cadelas a adotar filhos imaginários

    03/09/2017 02h00

    Ilustração Rodrigo Fortes
    Ilustração de Rodrigo Fortes para a coluna bichos de 3/9

    Cléo e Frida são cadelas sem raça definida de minha irmã. Viviam muito bem, em um quintal de bom tamanho, sem muitos desentendimentos até uns dois meses atrás. Em um sábado de manhã, as meninas se estranharam ao latir para o rapaz que entrega o gás e, a partir de então, as brigas se repetiram pela semana toda.

    O desespero tomou conta da casa: os confrontos ficavam cada vez mais agressivos, as duas já estavam se machucando e parecia impossível apartar as brigas (as cachorras são mistura de pit bull e de fila brasileiro).

    Quando o cenário era o pior possível, apareceram os outros sintomas: Frida parou de comer e passou a resmungar pelos cantos. Ao tentar ver se ela estava machucada, minha irmã notou que as mamas dela estavam cheias de leite.

    Sim! As meninas estavam com pseudociese (o termo técnico para gravidez psicológica), quadro que pode ser marcado pela agressividade, porque as cadelas adotam filhotes imaginários (Frida cuidava de uma garrafa de refrigerante) e os protegem com unhas e dentes.

    A gravidez psicológica é um distúrbio endócrino. A progesterona (hormônio da gestação) segue em níveis elevados cerca de dois a quatro meses após o cio, mesmo que a cadela não tenha tido contato com machos, levando a mudanças físicas e comportamentais.

    Não se sabe ao certo porque isso ocorre. Muito se especulou sobre a possibilidade de o quadro acometer cadelas que convivem com mulheres gestantes, mas a tese nunca foi cientificamente comprovada (e não era o caso de Cléo e Frida).

    Na natureza, no entanto, a pseudociese tem função clara: nas alcateias, só lobas dominantes se reproduzem, mas a gravidez psicológica dá às demais condições de cuidarem dos filhotes da fêmea alfa.

    Cléo e Frida, entretanto, não tinham quem amamentar. Resultado: leite empedrado e as mamas inflamadas, exigindo compressas, anti-inflamatórios, colar (para que parassem de lamber as mamas) e um remédio que reduz a produção hormonal.

    Após duas semanas de caos, as duas ficaram bem. Mas a castração é uma obrigação! Veremos o que minha irmã fará até a próxima vez (pois, casa de ferreiro, espeto de pau).

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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