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    Silvia Corrêa

    Dez dicas para driblar a resistência à sede e fazer o gato beber mais água

    05/11/2017 02h00

    Rodrigo Fortes
    ilustração da coluna "Bichos", de Sílvia Corrêa, de 05.nov.2017

    Gatos são animais extremamente seletivos. A regra vale para alimentos, brincadeiras, pessoas e... para a água.

    No caso da água, a seletividade inerente à espécie é agravada pela origem desértica dos felinos. Resultado: gatos são naturalmente resistentes à sede (graças à origem desértica) e, mesmo quando pensam em beber água, só farão isso se acharem um lugar seguro, limpo e com água fresca ou até corrente (graças à seletividade da espécie). É um desafio.

    Em tese, gatos devem beber cerca de 70 ml de água por quilo de peso a cada 24h. Um gatinho de 3 kg, portanto, deveria ingerir 210 ml/dia. Mas, se você tem um felino, conhece bem a enorme distância entre a teoria e a prática.

    Os gatos estão tão habituados à baixa ingestão de água que até seus rins diferem dos rins dos cães, apresentando alças de Henle mais longas. Alças de Henle são pequenas porções dos rins que, quando são mais extensas, têm mais superfície para reabsorção de água. Na prática, isso significa que a urina vai ficar mais concentrada, porque o corpo vai perder menos líquido a cada micção.

    Esse aparato anatômico dificulta os quadros de desidratação (porque devolve para o corpo a água que estava prestes a sair na urina), mas acaba aumentando a tendência de os gatos formarem cálculos urinários, já que as pedrinhas se consolidam exatamente por essa urina densa ficar muito tempo parada na bexiga, sem um fluxo frequente que lave todo seu canal de escoamento.

    O caminho é convencer o gato a tomar água. Para isso, a sãopaulo consultou alguns médicos veterinários e fez uma seleção das estratégias mais recomendadas por eles na guerra pela água. Vamos lá:

    • Vasilha limpa e água fresca. Na natureza, tomar água suja e parada pode colocar em risco a vida do animal. Por isso, gatos não tomam água que não pareça fresca. Troque a água pelo menos duas vezes por dia e lave o pote com detergente sem cheiro.
    • Água circulante. É exatamente a preferência por água corrente que leva os gatos a gostarem de torneiras e fontes. Se for esse o caso do seu felino, instale uma fonte (ela oxigena a água) e, sempre que possível, coloque-o para beber diretamente de uma torneira. Evite o chuveiro, para que ele não beba a água com sabão que fica no chão.
    • Potes por toda a parte. O número de potes de água tem de ser, no mínimo, o número de gatos existentes na casa + 1. Eles devem estar instalados em regiões de passagem e naquelas em que os gatos mais gostam de ficar, porque os bichanos são também seres preguiçosos e não vão mover montanhas atrás de água. Aliás, não são só eles: você nunca teve preguiça de buscar água no meio da noite?
    • Elimine vasilhas de plástico. O material deixa a água com cheiro e gosto, o que vai reduzir a ingestão hídrica dos gatos. Prefira cerâmica, louça ou vidro, que também mantêm a água mais fresca.
    • Água longe da comida e da liteira. Esse é um dos erros mais comuns, que ignora o instinto do gato. Na natureza, cheiro de animal morto (comida e fezes) indica ao felino que a água pode estar contaminada. Ele a evitará.
    • Mude a temperatura da água. Coloque pedrinhas de gelo nos dias quentes e amorne levemente nos dias frios. Veja se alguma das estratégias funciona para o seu felino.
    • Transforme a água em brincadeira. As pedrinhas de gelo podem não atrair o gato pela mudança de temperatura, mas, muitas vezes, eles ficam brincando e acabam ingerindo um pouco de água. Vale também colocar pequenos brinquedos no pote. Outra estratégia é oferecer a água em um vasilhame transparente, sobre uma superfície reflexiva, como um espelho. Muitos gatos identificam o reflexo e passam a interagir com ele, o que os motiva a beber mais água.
    • Potes grandes e largos. Os gatos não gostam que seus bigodes fiquem molhados nem que esbarrem nas bordas da vasilha. Por isso, como regra, prefira potes largos e preencha-os de água até a superfície. Muitos gatos, no entanto, percebem que os nossos copos (aqueles que deixamos no escritório) costumam ter água fresca e acabam se habituando a dar uma bicadinha na água alheia. Por isso, avalie o que seu gato gosta mais.
    • Tire a água do sol. Não se esqueça que o sol muda de posição ao longo do dia. Se você sai cedo e só volta à noite, garanta que a água estará protegida do calor durante todo o período.
    • Ofereça alimento úmido. A água contida nos sachês e latinhas acaba sendo ingerida sem que o gato perceba. O alimento úmido também tem carboidratos mais complexos, que não são facilmente absorvidos pelo intestino e que ajudam a prevenir a obesidade. Patês são melhores do que pedaços ao molho, que têm menos água e mais amido. Se o seu gato não aceita o alimento úmido, experimente molhar um pouco a ração seca com a qual ele está habituado.

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    A coluna "Bichos" é publicada aos domingos na revista sãopaulo.

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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