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    Suzana Herculano-Houzel

    O adoçante na comilança natalina

    24/12/2014 01h24

    Há tempos que, graças à invenção da cozinha por nossos ancestrais, não precisamos mais nos preocupar (tanto) em conseguir calorias suficientes para nos sustentar: onde há supermercados e alguma distribuição de renda, há mais calorias disponíveis por dia do que precisamos para nos manter.

    Para o cérebro, contudo, ainda ávido por comida como antes, não importa: oferecer uma mesa farta é sinal de prosperidade, mesmo que além do necessário (ou justamente por causa disso) –e parar de comer quando passa a fome é difícil. Some-se a isso a fartura de comidas pré-prontas, com pouca água (para durarem mais na prateleira) e muitas calorias concentradas, e tem-se a tendência mundial àquela palavra feia: obesidade.

    Foi nesse cenário que surgiram os adoçantes, promessa de pílula mágica para quem quer continuar comendo como se não houvesse amanhã, mas sem engordar. Adoçantes, por definição, são doces (estimulam os mesmos receptores que o açúcar na boca), mas não contêm calorias, pois nossas enzimas não os transformam em moléculas aproveitáveis. Seriam a saída perfeita para curtir o sabor doce sem pagar o preço na cintura –e até mesmo para ajudar quem precisa perder peso.

    Mas adoçantes nem sempre ajudam a perder peso, e em alguns casos parecem até piorar a situação, associados a diabetes tipo 2. Um estudo recente mostrou por quê: mesmo sem trazerem calorias para o corpo, eles mudam a população de bactérias no intestino de camundongos e humanos –e as substâncias produzidas pelas novas bactérias, estas sim, causam aumento de glicose no sangue e obesidade. Ou seja: o tiro sai pela culatra.

    Não em todos os humanos testados: ao que parece, metade de nós consome adoçantes sem efeitos colaterais indesejados, mas a outra metade corre o risco aumentado de doença metabólica. A qual grupo você pertence?O jeito seria fazer um teste de curva glicêmica com adoçantes na sua dieta, e outro sem.

    Mas é mais fácil praticar o que a neurocientista Sandra Aamodt propõe: refeições conscientes. Sim, podemos comer mais do que precisamos. Como os sistemas no cérebro que controlam o "querer comer" e o "precisar comer" são diferentes, poder acaba virando querer. Mudar isso é questão de observar sua fome. Sua avó não tinha razão: você não deve limpar o prato –a não ser que esteja mesmo com fome.

    suzana herculano-houzel

    Carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha.
    Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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