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    Suzana Herculano-Houzel

    Por que dar colo para o bebê consegue acalmá-lo?

    03/01/2017 02h00

    Keiny Andrade/Folhapress
    Resposta nervosa pode ajudar bebê a se acalmar quando é erguido pela mãe, assim como em outros animais
    Resposta nervosa pode ajudar bebê a se acalmar quando é erguido, assim como em outros animais

    Na época em que minha filha de poucos meses acordava de madrugada, ficávamos eu e ela após o "lanchinho" noturno valsando, no lugar, ao som do Capricho Italiano de Tchaikovsky. Com quase 17 minutos, a música, uma de minhas favoritas, tinha duração suficiente para a menininha relaxar e adormecer de novo no meu colo, acompanhada por palmadinhas ritmadas no seu traseirinho enfraldado.

    Minha então sogra, alemã, nos acusava de estragar a menina com tantos cuidados. Há quem defenda colocar a criança no berço e deixar chorar. Discordo. Não há como colo para dizer ao cérebro que está tudo bem.

    Ser pego no colo tem um componente óbvio de conforto e proteção que por si só já seria razão para aplacar angústias e preocupações: no colo, temos atenção e estamos a salvo. Mas é igualmente importante que o bebê no colo se acalme, a ponto de ficar até mesmo paralisado: isso permite que o bebê possa ser transportado rapidamente e em segurança, sem alertar inimigos ou predadores. Acontece com filhotes de carnívoros e de roedores –e, segundo um estudo feito por um consórcio de instituições japonesas, também com bebês humanos.

    Quem tem gato sabe que a maneira certeira de fazê-los congelar é levantá-los pela pele da nuca, como faz a mãe gata ou leoa ao transportá-los. Há vídeos no YouTube mostrando que basta prender um clipe na nuca de um filhote serelepe para obter o efeito: ele imediatamente congela e cai de lado. O mesmo acontece com bebês cachorros, esquilos, leões ou camundongos, levados na boca da mãe.

    O grupo liderado por Gianluca Esposito mostrou que ser levantado pela nuca, seja pela mãe ou pelo pesquisador, faz com que camundongos filhotes, até então chamando e procurando pela mãe, fiquem imediatamente em silêncio, quietos, e com menor frequência cardíaca. Também funciona com bebês humanos: irrequietos no colo da mãe sentada, eles imediatamente param de se debater, param de chorar, e seu coração desacelera quando a mãe se levanta.

    No camundongo, o efeito calmante de ser levantado, provavelmente mediado por uma baita ativação parassimpática, depende de informação sensorial da tensão na nuca: sob anestesia local, camundongos continuam se debatendo na boca da mãe –que então tem mais dificuldade para carregá-los. Os pesquisadores não determinaram o que faz a diferença em bebês humanos, mas neste caso eu apostaria no movimento ritmado dos passos do adulto.

    O importante é que ser levado no colo funciona. É uma ótima justificativa, cortesia da neurociência, para quem quiser ninar seu filho em paz

    suzana herculano-houzel

    Carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha.
    Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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