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    Suzana Herculano-Houzel

    Desfazendo 'nós': como a massagem contra dor muscular funciona

    23/05/2017 02h00

    Quinn Dombrowski/Flickr

    Minha avó era mestra em achar e desfazer os "nós" nos músculos de pescoços e ombros das pessoas tensas da família. Nossos urros de dor indicavam que ela havia achado o ponto crítico e, esposa de médico que ela era, autointitulada enfermeira de plantão, não sossegava enquanto não desfizesse os nós –para o alívio que se seguia aos nossos protestos.

    Décadas mais tarde, sofrendo de dores no pescoço, nos braços e pernas por causa de ansiedade crônica, encontrei a explicação para a dor e sua origem no estresse e para a causa do alívio com a massagem em estudos de dois grupos de pesquisadores americanos e um japonês.

    A dor da tensão muscular é concentrada nas zonas de contato com o nervo que provoca a contração daquele grupo muscular –por exemplo o trapézio, entre o pescoço, os ombros e as costas, músculo cuja contração mantém a cabeça erguida. Em situações de estresse, manter a cabeça erguida é fundamental (pense em quadrúpedes alertas que detectam predadores à espreita: viramos bípedes, mas as conexões com o sistema nervoso são as mesmas).

    A resposta ao estresse envolve sensibilização pelo cérebro dos neurônios na medula espinal que contraem os músculos, em particular o trapézio, mais ativação do sistema nervoso simpático, que facilita a contração diretamente do músculo. Sobretudo quando o estresse é crônico e intenso, as duas mudanças conspiram para deixar a zona muscular da placa motora sob contração intensa, que deixa rija a musculatura naquele local. Pronto: está formado o "nó".

    A dor é consequência de tanta contração, que começa a asfixiar o músculo. Na falta de oxigênio, o músculo começa a produzir substâncias inflamatórias, que em princípio podem aliviar o problema ao aumentar o fluxo sanguíneo –mas, no processo, causam dor diretamente no local.

    Como massagear os tais nós funciona? Não por desfazer mecanicamente a tensão, como minha avó acreditava, mas por elevar o fluxo sanguíneo e assim reverter a asfixia que causava diretamente a dor. Além disso, a massagem reduz a atividade simpática que exacerba tanto a contração muscular quanto a dor.

    Para completar, a massagem também acalma o cérebro: com ela, diminui a ativação do córtex pré-frontal, fonte da percepção do estado de tensão. Se o cérebro se acalma, a tensão diminui. Por isso, técnicas de relaxamento ajudam –para quem consegue relaxar nesse estado...

    suzana herculano-houzel

    Carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha.
    Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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