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    Suzana Herculano-Houzel

    Por que a gente gosta de quem nos faz rir

    01/08/2017 02h00

    23am.com/Flickr
    Graças a risadas, o cérebro libera opioides
    Graças a risadas, o cérebro libera opioides

    Ter oportunidades para rir ao longo do dia pode parecer um bônus, uma pausa bem-vinda no meio de um dia de afazeres. Mas um corpo crescente de evidências indicam que o que leva ao riso faz muito mais do que divertir: reduz o estresse, melhora a capacidade do corpo de combater infecções –e ainda promove laços afetivos entre todos os que compartilham a risada.

    Um estudo finlandês recém publicado no "Journal of Neuroscience" mediu a liberação de opioides pelo cérebro de voluntários após estes terem passado 30 minutos assistindo com dois amigos próximos a uma compilação de cenas de comédia, e comparou o nível de opioides com aquele nos mesmos voluntários após 30 minutos de silêncio, sozinhos em um quarto.

    Os opioides mais famosos são morfina e heroína, conhecidos pelas sensações de analgesia, relaxamento e prazer que causam –e que tão rapidamente levam ao vício, se intensos e frequentes demais. Se tais substâncias funcionam, no entanto, é justamente porque existem opioides internos, produzidos pelo próprio cérebro, e que provavelmente levam a efeitos semelhantes, ainda que mais brandos.

    De fato, hoje se sabe que o efeito placebo, a melhora no bem-estar e redução da dor que acontecem só de se acreditar que se recebeu tratamento (quando o remédio na verdade era apenas água, farinha ou glóbulos de homeopatia sem qualquer princípio ativo), depende da capacidade do cérebro de produzir seus próprios opioides.

    Ser acariciado ou abraçado por quem se gosta é uma maneira certeira de fazer o cérebro liberar seus próprios opioides –mas que só tem efeito sobre as duas pessoas envolvidas. Segundo o estudo finlandês, rir em grupo também funciona, e aparentemente surte efeitos no cérebro de todos os envolvidos: a liberação de opioides endógenos aumenta nas partes do cérebro que levam ao bem-estar e ao prazer, e junto com isso vêm não só sensações agradáveis de diversão como também de calma e paz interna. Quanto mais intensas as risadas, mais forte é a ativação do cérebro por seus próprios opioides –e mais intensas as sensações positivas.

    De quebra, fica no cérebro um registro da associação entre a companhia do momento e o resultado prazeroso. E assim quem riu conosco, ou nos fez rir, ganha valor especial para nosso cérebro.

    Não é à toa que gostamos tanto dos nossos amigos e parceiros bem-humorados, e preferimos sua companhia à de qualquer outra pessoa. Rir faz bem ao cérebro –e ele lembra com carinho especial de quem nos levou ao riso.

    suzana herculano-houzel

    Carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha.
    Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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