• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 08:18:32 -03
    Suzana Singer

    Quem erra primeiro

    12/06/2011 03h00

    COMO NA Fórmula 1,""ser o primeiro" é uma das metas do jornalismo on-line. Em ritmo frenético, os sites disputam diariamente quem vai dar a notícia antes dos outros.

    Na quarta-feira, a Folha.com derrapou feio nessa corrida. Às 18h34, quando ainda acontecia o julgamento no Supremo Tribunal Federal, saiu a notícia ""Supremo decide extraditar Cesare Battisti à Itália". Antes do título, um aviso: ""NÃO PUBLICAR - TXT FAKE".

    O erro foi percebido em apenas cinco minutos, tempo suficiente para repercutir no Twitter. "Folha extradita Battisti antes da hora." "Serra deve ter ligado para Gilmar de novo e barrigou."

    Piadas à parte, o erro do site diz muito sobre a lógica -ainda mal digerida- do noticiário na web. Com milhões de internautas aptos a publicar, sem mediação, em blogs ou redes sociais, há uma pressão crescente pela notícia em primeira mão.

    O assassinato de Bin Laden, a notícia do ano até agora, foi furo do Twitter. Numa noite de domingo (22h25, horário dos EUA, de 1º de maio), um ex-membro do Departamento de Defesa postou: "Uma pessoa de confiança me contou que mataram Bin Laden. Caramba!"

    Minutos depois, fontes da Casa Branca confirmavam a informação a repórteres de confiança, mas em ""off", para não tirarem do presidente Obama a primazia do anúncio.

    Enquanto ele escrevia o discurso, a notícia bombava no Facebook. O ""New York Times" deu às 22h40. TVs interromperam a programação, cinco minutos depois, para anunciar o fim do "inimigo nº 1". Quando Obama começou a falar, às 23h35, mais de uma hora depois de ser furado no Twitter, havia milhares de espectadores esperando para ouvir a confirmação do presidente.

    A morte de Michael Jackson, em 25 de junho de 2009, vazou também fora dos principais órgãos de imprensa. Um site de fofocas, o TMZ, deu a notícia às 14h44 (horário da Califórnia), apenas 18 minutos depois de a morte do astro pop ter sido constatada pelos paramédicos.

    Com medo de confiar num site controverso, a mídia esperou que o "Los Angeles Times" soltasse a notícia, o que aconteceu às 14h51.

    Os principais órgãos de imprensa vêm percebendo que credibilidade é o que os diferencia nesse mar de informações da rede. Se é verdade que houve uma democratização das fontes, também é fato que, quando acontece algo realmente importante, as pessoas correm a certificar-se nos sites de prestígio -quase todos extensões de marcas do meio impresso ou televisivo.

    Não se trata de ignorar a importância da velocidade, mas de colocar mais peso na checagem e na formulação dos textos. Pressa é quase sempre sinônimo de frases malfeitas, de parágrafos descosturados e de falta de contextualização.

    A queda de Palocci, por exemplo, foi noticiada primeiro na Folha.com, mas o texto à disposição dos leitores na noite de terça-feira era confuso e mal-ajambrado. O parágrafo inicial já falava de mais um ministro em processo de fritura, antes mesmo de explicar o que havia sido decidido sobre a Casa Civil.
    Para sobreviver na era do jornalismo digital, é preciso ser ágil para atender a sede frenética por novidades do internauta, mas qualidade será cada vez mais importante.

    SEÇÕES SOMEM SEM UM AVISO

    Sem aviso aos leitores, algumas seções sumiram. O ""Toda Mídia", que desde 2004 trazia os destaques da imprensa mundial, foi extinto. A novata ""Por aí", que faria um ano no Cotidiano, parou de ser publicada aos sábados. O caderno "Fovest", para vestibulandos, foi suspenso.

    Duas colunas também deixaram o Folhateen: ""Escuta Aqui", escrita por Álvaro Pereira Júnior, e ""02 Neurônio", de Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso. Álvaro passa a escrever quinzenalmente, aos sábados, na Ilustrada.
    Para a Secretaria de Redação, "é natural que o jornal promova mudanças periódicas". Diz, por exemplo, que o "Toda Mídia" serviu por um bom tempo como uma ponte entre as plataformas de papel e on-line da Folha, que hoje estão integradas. "O objetivo é apresentar um jornal mais ágil e atualizado aos leitores", afirma.

    suzana singer

    Escreveu até abril de 2014

    Foi a ombudsman da Folha por quatro anos, de abril de 2010 a abril de 2014. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de "Cotidiano".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024