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    Suzana Singer

    O diabo mora nos detalhes

    13/05/2012 03h46

    Eles não estão nas primeiras páginas nem ocupam muito espaço, mas podem provocar grandes dores de cabeça. São os "pequenos" erros, que atrapalham bastante a vida de quem usa o jornal no dia a dia.

    No sábado retrasado, o caderno "Mercado" tentou ajudar o leitor a comparar investimentos, levando em conta as mudanças na poupança. Um quadro simulava diferentes aplicações para R$ 100 mil, considerando a taxa de juros atual e uma possível queda da Selic, além do impacto do Imposto de Renda.

    Uma revisão atenta notaria que a nova poupança, considerando a Selic a 9%, não poderia render R$ 500 e a mesma aplicação, a 8,5%, R$ 516. Com uma calculadora, o planejador financeiro pessoal Alvaro Dias, 42, encontrou outros 13 erros. A tabela teve que ser publicada de novo na terça-feira passada.

    Só contando nos dedos, o jornalista aposentado Vicente Pettinati Netto, 77, descobriu que faltava um número no resultado da Lotofácil no mês passado. "Não raro as correções são de coisas sem importância, e erros mais sérios passam em branco. Imagine se alguém deixar de receber um prêmio por culpa do jornal?", criticou.

    O blogueiro Sérgio Beni Luftglas, 45, não perdeu uma fortuna, mas uns tantos reais -e tempo- por causa da Folha. No domingo, 15 de abril, saiu de casa depois de consultar a "revista sãopaulo" para assistir a "Guerra é Guerra", no Shopping Pátio Higienópolis (região central de SP). Parou no estacionamento, tomou um café e... descobriu que o filme não estava mais em cartaz. "Quando voltei para casa, fui olhar no guia do 'Estadão' e lá estava certo", reclamou Luftglas.

    Os erros em serviços parecem tão insignificantes que muitos relutam em apontá-los. O funcionário público aposentado Camilo Marcantonio, 71, de Monte Alto (interior de SP), ficou na dúvida sobre escrever para o ombudsman, porque, "diante de tantos erros que a Folha comete, o que aponto é nada".

    Marcantonio tinha se esquecido de reajustar o salário de sua empregada doméstica. Na seção Faça suas Contas, de "Mercado", viu que o salário mínimo em São Paulo era de R$ 690 em março. "Não tive dúvida. Pedi desculpas pela falha e paguei-lhe a diferença", conta. No dia seguinte, voltou a "Mercado" e encontrou um novo valor (R$ 622). Mais uns dias e... o salário mínimo tinha voltado a R$ 690. Graças a ele, descobriu-se que a tabela já tinha saído com erro quatro vezes. "Se corrigiu, já está bom", conforma-se.

    O jornal é que não pode se acomodar. Se não há checadores, poderia ser criado algum tipo de conferência por amostragem, voltada para a parte de serviço (indicadores econômicos, roteiros de lazer, quadro de fusos horários etc).

    Aos leitores, peço que não desistam de alertar a Redação: pode ser no ombudsman@uol.com.br ou clicando no ícone "comunicar erro", que aparece no alto de todos os textos da Folha.com.

    É obrigatório, na Folha, retificar qualquer incorreção. Não importa se foi manchete ou se estava em letras miúdas perdida no meio de uma tabela. Afinal, o diabo mora nos detalhes.

    A IMPRENSA E CACHOEIRA

    Muita opinião -e pouca informação- atrapalham a discussão sobre a mídia no caso Cachoeira. Os depoimentos fechados na CPI só pioram a guerra de versões. Quem acha que a imprensa deve ser questionada é "petista querendo cercear o jornalismo". Quem não vê o "conluio entre o bicheiro e a maior revista do país" está vendido para os "barões da mídia". Pobre leitor que não desistiu desse noticiário.

    suzana singer

    Escreveu até abril de 2014

    Foi a ombudsman da Folha por quatro anos, de abril de 2010 a abril de 2014. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de "Cotidiano".

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