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    Tati Bernardi

    Os piores (dos últimos dias) de 2013

    30/12/2013 03h00

    Definitivamente não simpatizo com a árvore de Natal do Ibirapuera. E posso citar motivos bastante louváveis: ela é feiosa; ela não anuncia o espírito natalino, mas sim a marca do patrocinador; ela, somada à decoração da Paulista, atravanca a vida de todas as pessoas que tentam se locomover em São Paulo nessa época do ano.

    Não entendo a opção de passeio "ir lá na árvore". É como ter convidado pra ceia da sua casa centenas de desconhecidos que, sem nenhuma generosidade cristã, vão tentar desesperadamente pegar o melhor ângulo das fontes circenses coloridas e o último cachorro quente.

    Quantos namoros não terminei depois de cinco horas parada na avenida Brasil, tentando chegar ao aeroporto de Congonhas. "A gente deveria ter ido pelo caminho que falei, mas você é teimosa", "Não aguento mais essa cidade, bom mesmo é Itapemirinzinho do Passa Quatro onde mora a mãezinha", "Falei que a gente devia ter saído cinco horas antes", "Ao invés de chorar, liga logo na companhia aérea e vê se tem reembolso!!!".

    Definitivamente não simpatizo com pessoas que cagaram pra você 360 dias do ano (e você cagou pra elas) e nos últimos cinco ficam desesperadas pra te ver. "A gente TEM QUE se ver antes do ano acabar amigaaaa!!!". Por quê? Pra quê? Não tenho mais nada a ver com você, nem gosto mais de você, não gosto da decoração da sua casa com móveis rústicos de Embu e churrasqueira na varanda, não entendo você não trabalhar e o mozão te sustentar, acho o fim da picada passar perfume no cachorro, não entendo a unha do seu pé com francesinha. Sim, fomos melhores amigas há 15 anos mas, agora, francamente, eu não te daria nem bom dia no elevador.

    Definitivamente não entendo um bando de macho uga-buga salivando porque a mocinha está com os peitos de fora na praia (ou no caixa eletrônico: o Rio de Janeiro tem sempre um semi pelado tirando dinheiro e acho isso sensacional). Machistas ignorantes deixem as moças em paz! Mas também (vai, feministas, podem me xingar) não entendo a moça que quer esturricar a biqueta em pleno verão carioca. A biquetinha é tão sensível, pra que assar a coitada?

    Acho todas as elucubrações de verão chatas demais: a cor que vai abalar a estação segundo a revista Fuckers, os reaças x as peitocas, a praia nordestina do momento que vai ter uma festa muito VIP com meninas meigas do Cidade Jardim e bombados da Ilha Maurício.

    Os mosquitos, a dengue, os pernilongos, a paradinha pra mijinho e lanchinho no Frango Assado, o jornal noticiando as mil horas de congestionamento, a insolação misturada com o camarão que não caiu legal fazendo fila em hospital sem médico suficiente, o Roberto Carlos pra brindar com champanhe, mais insetos, as vitórias brasileiras segundo alguma cartomante do 'Fantástico', os acidentes na Regis que caíram em relação à 1997, eu olhando pros fogos fingindo emoção com uma vontade danada de ir logo dormir, cinco, quatro, três, dois, um...ufa, acaba logo com isso e vamos voltar pra trabalhar e falar mal dos outros.

    tati bernardi

    É escritora, redatora, roteirista de cinema e televisão e tem quatro livros publicados. Escreve às sextas.

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