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    Tostão

    Bota ponta, Luxa!

    18/08/2013 01h00

    Na época em que se amarrava cachorro com linguiça, expressão usada por Felipão, todas as equipes tinham laterais que, raramente, passavam da linha do meio-campo e pontas que, raramente, voltavam até seu campo. Não se misturavam. Parecia uma passagem de bastão, em uma corrida de revezamento.

    Diz a lenda que, no jogo contra a Áustria, na Copa-58, o treinador Vicente Feola gritava para Nilton Santos não avançar. O lateral esquerdo, que tinha no corpo um computador, de última geração, que calculava todos os movimentos e a velocidade dos companheiros, dos adversários e da bola, e que ainda possuía um GPS para mostrar o melhor caminho, continuou e fez o gol.

    Diz ainda a lenda que Feola dormia durante as partidas. Se isso é verdade, não poderia gritar para que Nilton Santos voltasse.

    Em todas as épocas, o futebol, quase sempre, foi jogado com atacantes ou meias pelos lados. Antes, eram os autênticos pontas, dribladores. O drible é uma transgressão do racional e do pensamento linear.

    A partir da Copa-66, sumiram os típicos pontas na Europa, que foram substituídos por um meia de cada lado, que voltavam para marcar, ao lado dos volantes, formando uma linha de quatro no meio-campo e que, quando o time recuperava a bola, avançavam como pontas.

    A única diferença desse sistema tático, com dois volantes, um meia de cada lado e dois atacantes, talvez ainda o mais usado no mundo, com a maneira atual de jogar, com três meias e um centroavante, é a troca de um dos dois atacantes por um meia de ligação, pelo centro.

    Hoje, muitos times têm um volante que avança como meia, quando a equipe recupera a bola. Sempre foi assim, quando o volante tem talento. Os numerólogos já estão criando um novo sistema, o 4-1-4-1, com um volante, quatro meias e um centroavante. Mudam os números, e continua tudo igual.

    Uma evolução importante da maneira atual de jogar, com um meia de cada lado (pontas), é a formação de duplas pelos lados, entre o meia e o lateral, na defesa e no ataque. Não existe mais a passagem do bastão, do lateral para o ponta. Isso confunde a marcação.

    Após o sumiço dos autênticos pontas, muitos técnicos brasileiros, como Luxemburgo e outros, diferentemente do que ocorre no mundo todo, inclusive em muitas equipes que disputam o Brasileirão, preferem jogar como há 20 anos, com três no meio-campo, geralmente volantes mais marcadores, um meia de ligação e dois atacantes. São os laterais que avançam, pelas pontas, geralmente sem saber. Os volantes deixam de ser jogadores de meio-campo, para fazer a cobertura, ser os secretários dos laterais. Um atraso.

    Quando Luxemburgo era treinador do Real Madrid, os espanhóis protestavam e pediam jogadores pelos lados. Parafraseando Jô Soares, "bota ponta, Luxa"!

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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