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    Tostão

    O craque enxuto

    19/03/2014 03h00

    Rivaldo, um dos grandes do futebol brasileiro, anunciou o fim de sua carreira. Ele foi um craque diferente, dentro e fora de campo. Os grandes craques mostram, desde o início, que têm tudo para se tornarem fenomenais. Rivaldo era um excelente jogador, mas nunca imaginei que seria o melhor do mundo.

    Rivaldo era um craque essencialmente técnico. Passava e finalizava com extrema eficiência. Em seu estilo, não havia lugar para firulas nem efeitos especiais. Era um craque enxuto, minimalista. Mesmo o belíssimo e famoso gol de bicicleta, de fora da área, quando jogava pelo Barcelona, só ocorreu porque era o único recurso que tinha no momento.

    Por jogar com a cabeça baixa, por precisar ajeitar o corpo para passar a bola do pé direito para o esquerdo e por ter um globo ocular saliente, com os olhos no fundo, que diminuem seu campo visual, Rivaldo contrariou as teses e regras sobre um grande jogador. Ele não parecia craque. Era craque.

    Fora de campo, Rivaldo mantinha o estilo. Não tinha pose de estrela, não gostava de dar entrevistas nem de badalações. Parecia um operário, que treinava, jogava, brilhava e, depois, ia para seu canto. Sua vaidade era se sentir desimportante.

    No Barcelona, quando foi eleito o melhor de mundo, Louis van Gaal, atual treinador da seleção da Holanda, pedia para Rivaldo jogar pela esquerda, como um ponta. Ele ia para o centro, no momento certo, e decidia as partidas.

    Assim como surpreendeu ao se tornar, rapidamente, o melhor do mundo, Rivaldo, em pouco tempo, passou a ser um jogador comum, como era no Cruzeiro, em 2004, dois anos depois de assombrar o mundo. Até nisso, foi diferente.

    Certa vez, em uma cobertura da seleção, a Folha combinou com Rivaldo uma longa entrevista. Eu estaria junto com os repórteres. Rivaldo exigiu que eu não estivesse presente, contrariado com críticas que tinha feito a ele alguns dias antes.

    Não fiquei chateado nem surpreso. Os atletas aceitam muito mais críticas de um jornalista que não foi jogador do que as mesmas críticas feitas por um ex-atleta. Acham que deveríamos ser condescendentes, corporativistas, o que, com frequência, acontece. Há ex-jogadores comentaristas que pedem até desculpas, licença, para criticar um atleta.

    Os treinadores também não gostam de ser contestados. São, geralmente, paparicados. Muitos comentaristas, ex-atletas ou não, acham que tudo o que acontece em um jogo é consequência de ação dos treinadores.

    CALENDÁRIO

    Achei sensatas e corretas as propostas do Bom Senso F.C. para mudar o calendário. CBF, TV Globo, federações e clubes precisam se manifestar. Mas nosso futebol só irá evoluir quando os dirigentes e sua turma, que comandam há décadas o esporte, forem substituídos por profissionais competentes e independentes.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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