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    Tostão

    Dilemas e contradições

    16/04/2014 03h00

    Dos três times brasileiros na Libertadores, o Cruzeiro é o mais definido na maneira de jogar e o que tem o melhor elenco. Para Júlio Baptista jogar parado, de costas para o gol, como tem feito, é melhor Borges, que é mais rápido nas finalizações em pequenos espaços.

    O Grêmio, que era exaltado como o melhor brasileiro na Libertadores, por ter conseguido mais pontos na primeira fase, passou a ser criticado, questionado, após a goleada para o Inter. É impressionante como os conceitos mudam em poucos dias.

    O Atlético-MG vive uma transição de identidade. Não joga no estilo Galo Doido, como fazia com Cuca, no Independência, nem troca passes, desde a defesa, como gosta Paulo Autuori. O zagueiro Leonardo Silva, acostumado aos chutões, erra quase todos os passes, uma característica dos zagueiros que atuam no Brasil. O argentino Otamendi é exceção.

    O futebol é complexo. Muitos é que tentam simplificá-lo e reduzi-lo a dezenas de chavões e a boas manchetes.

    É difícil ser um ótimo treinador. Tudo é incerto. Há várias maneiras de vencer. Muitos sabem, mas, na hora de decidir, ficam confusos. A autossuficiência é necessária aos técnicos, mas está próxima da soberba. Quando isso ocorre, os treinadores passam a lembrar apenas de suas experiências positivas, a achar que são mais sábios que a sabedoria e tornam-se incapazes de aceitar críticas.

    Alguém já disse, provavelmente um escritor de sucesso de livros de autoajuda, que a humildade não é o desconhecimento do que somos, e sim o conhecimento e o reconhecimento do que não somos. É uma bela frase. Não tenho nenhuma admiração por livros de autoajuda, mas não sou também metido a fazer um tipo que acha óbvio e primário tudo o que é simples e claro.

    Na Copa, as explicações já estão prontas. Se o Brasil perder na final, evidentemente a manchete será "Maracanazzo". Se ganhar, mesmo jogando mal, vão exaltar a magia do nosso futebol e dizer que está tudo maravilhoso.

    Repito, pela milésima vez, o que passa a ser também um lugar-comum, que temos dois futebóis brasileiros. Um, o da seleção, moderno, em que quase todos os jogadores atuam fora e aprenderam a jogar coletivamente, e outro, que se pratica no Brasil, na média, fraco e ultrapassado. Não são apenas os times de São Paulo e do Rio que estão mal. Eles estão piores. Há também coisas boas.

    O futebol espelha os dilemas, paradoxos e contradições humanas. Na Copa, a vitória poderá ser pior que a derrota, para o futuro do futebol brasileiro. Quanto mais mostram os problemas da Copa e mais se teme as manifestações de rua, os assaltos e a violência nas cidades-sede, mais se vende ingressos. Muitos torcedores que se dizem éticos, honestos e justos adoram ser campeões com um gol roubado.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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