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    Tostão

    Mentiras têm pernas curtas

    03/08/2014 02h00

    As mentiras são frequentes em todas as áreas, em todo o mundo, especialmente no futebol brasileiro. Muitas se confundem com os autoenganos.

    O desconhecimento, a indústria do entretenimento e o marketing exagerado ajudam a criar grandes mentiras. Jogadores medianos são anunciados como bons, e os bons, como craques. Técnicos medíocres são tratados como mestres. O torcedor, consumidor, é enganado. A mentira de que o Brasil continuava com o melhor futebol do mundo foi desmascarada na Copa. Mentiras têm pernas curtas.

    No Mundial, a mentira começou antes, nos motivos pelos quais Felipão e Parreira foram contratados. Disseram que foi somente pela experiência e pela qualidade técnica.

    Não sei se houve um encontro formal, mas, certamente, havia um grande desejo da CBF, de empresários, marqueteiros, investidores e do Ministério do Esporte de criar um ambiente de euforia, já que havia muito pessimismo e muitas críticas à realização da Copa no Brasil.

    O carismático e popular Felipão, campeão do mundo, era a pessoa ideal para levantar a torcida.

    Até declarações otimistas de Felipão e de Parreira, de que o Brasil seria campeão, devem ter sido pensadas por marqueteiros.

    Antes de ser anunciado como técnico, Felipão era consultor do Ministério do Esporte. Não sei por qual razão. Já devia fazer parte dos planos. Falam ainda que Felipão saiu do Palmeiras porque já tinha acertado com a CBF.

    Na época, recebi, para minha grande surpresa, um telefonema de Marin. Já contei isso em um artigo para a revista Piauí. Apesar de não ter nenhuma simpatia por ele, tratei-o educadamente. Ele parecia querer me dizer ou perguntar algo e dava voltas. A ligação caiu ou ele desligou, já que não ligou novamente. Deve ter percebido que telefonara para a pessoa errada. Pouco tempo depois, Felipão foi contratado.

    Quando uma pessoa acredita em algo, em alguém ou em um estilo de jogo, passa a concordar com todos os que pensam como ele. Perde a independência e o bom senso.

    Até o 7 a 1, tudo o que Felipão falava ou fazia era verdade. O técnico Prandelli, por tentar fazer com que a Itália jogasse um futebol ofensivo e agradável, o que é bom, passou a ser superelogiado, até pelos erros que cometeu.

    Vem aí mais uma mentira. A da contrapartida dos clubes para compensar o longo parcelamento de suas dívidas. Se não fossem os protestos, haveria uma anistia total, de R$ 4 bilhões.

    Os políticos não entram em acordo sobre qual será essa contrapartida. A dificuldade é achar uma boa mentira para atenuar as críticas.

    Outra mentira era a de que, se o Brasil fosse eliminado, mesmo por um placar de 2 a 1, haveria uma grande tragédia e surgiriam vários Barbosas. Nada disso aconteceu.

    Houve mais piadas do que críticas. O torcedor percebeu que o país é mais importante que o futebol. A grande derrota foi uma vitória da nação.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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