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    Tostão

    Ademir da Guia, o Divino

    DE SÃO PAULO

    27/08/2014 02h00

    Uma das razões de algumas boas partidas no Brasileirão é a boa qualidade dos gramados. A CBF, a partir de 2015, deveria, com rigor, aprovar somente estádios com excelentes gramados. Isso é básico. O do Serra Dourada, em Goiânia, que já foi o melhor do Brasil, está ruim. Mesmo assim, Éverton Ribeiro deu um ótimo passe para Marcelo Moreno fazer o gol da vitória do Cruzeiro, por 1 a 0, sobre o Goiás.

    Enfim Muricy definiu a maneira de jogar do São Paulo. Quando a equipe perde a bola, Kaká, pela esquerda, e Ganso, pela direita, voltam para marcar e formam, com os dois volantes, uma linha de quatro. O Cruzeiro faz o mesmo, com Éverton Ribeiro e Willian. A defesa fica mais protegida. Quando recuperam a bola, os meias avançam, sem posições fixas. Ganso nunca atuou em um espaço tão grande.

    Outro meia brasileiro, Oscar tem jogado muito bem e de uma maneira diferente. O Chelsea, em vez de dois volantes, um ao lado do outro, e um meia ofensivo, tem atuado com apenas um volante, não tão recuado como
    Luiz Gustavo na seleção, e um armador de cada lado, Oscar e Fàbregas, que marcam e avançam. Assim, jogou a Alemanha na Copa. Na seleção, Oscar atuou pelos lados. Dunga deve estar atento.

    Uma semelhança, hoje, entre várias grandes equipes é a de que não há mais um típico camisa 10, de quem os nostálgicos brasileiros tanto gostam, que joga em um pequeno espaço, que não participa da marcação e que espera a bola no pé para dar um passe ou tentar o gol. Ganso percebeu isso, com a ajuda de Muricy, o que faz dele um meia muito mais completo e melhor.

    Éverton Ribeiro e Ganso me fazem lembrar de Ademir da Guia, o Divino. Joguei várias vezes contra ele. Foi o melhor jogador que vi atuar pelo Palmeiras. O Cruzeiro era mais veloz, por causa de Dirceu Lopes, e o Palmeiras trocava mais passes curtos, por causa de Ademir, dois camisas 10 excepcionais.

    Por que não há na seleção um armador fora de série? Quando houve a ruptura? Penso que foi na divisão do meio-campo, entre os volantes e os meias ofensivos. Desapareceram os meio-campistas, que atuavam de uma área à outra, como Ademir e Dirceu. Há vários deles na Europa, o que mostra que não foi o futebol moderno que fez sumir esse jogador no Brasil. Foi a escolha dos técnicos.

    Ademir da Guia parecia um cisne branco, deslizando pelo gramado, alto, elegante, com passadas largas e com a bola colada aos pés. Raramente, errava um passe.

    Diziam que Ademir era um falso lento. Essa dicotomia entre falso e verdadeiro, falso lento, falso 9, e outros falsos por aí, sempre estiveram presentes. Hoje, na sociedade do espetáculo, cada vez é mais difícil separar o que parece e o que é. Algumas vezes, quem é não parece ser, e o que parece não é. "Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou" (Fernando Pessoa).

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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