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    Tostão

    Já começou a euforia

    12/10/2014 02h19

    O futebol brasileiro costuma ser tudo ou nada. Euforia ou depressão. Quando ganha, é sempre ótimo e, quando perde, é sempre péssimo. As opiniões são também, com frequência, passionais e antagônicas.

    De um lado, os utilitaristas, operatórios, científicos ou pseudocientíficos, que acham que a bola nunca entra por acaso e que as vitórias e derrotas são sempre resultantes de uma sequência programada de lances. Do outro lado, os românticos, saudosistas, que veem o futebol apenas como uma partida de imprevisibilidades e de jogadas inventadas pelos craques. Querem a volta ao estilo dos anos 1960.

    O mundo e o futebol mudaram. Tento ver, analisar os fatos e ser um observador neutro, sem preconceitos. Nem sempre consigo.

    As antigas análises, obsoletas, entre futebol-arte e de resultados, ofensivo e defensivo, têm mudado. Após a Copa e o 7 a 1, as palavras que mais ouço são compacto e espaço. Começo a perceber que há coisas muito mais importantes que o sistema tático. Em cada lance, há um desenho diferente.

    O Cruzeiro sofreu gols parecidos contra Inter e Corinthians. Havia um grande espaço entre o meio-campo e a defesa. Alex, do Inter, e Petros, do Corinthians, conduziram a bola com liberdade, do meio até a área. Por outro lado, se os defensores marcam mais à frente, sobra espaço nas costas. O Atlético-MG poderia ter feito gols, desta forma, contra o Fluminense, mas os meias e atacantes, especialmente Carlos, partiam antes do lançamento.

    A maioria das equipes prefere iniciar a marcação no meio-campo, para contra-atacar. Foi o que fez o Brasil, muito bem, contra a Argentina. Inter e Corinthians também fizeram o mesmo, contra o Cruzeiro. Nem sempre funciona. Deu certo para o Corinthians e errado para o Inter.

    A seleção tem jogadores para atuar dessa forma. Mas terá dificuldades quando precisar pressionar o adversário.

    Apesar de a Argentina ter dominado o primeiro tempo, criado várias chances de gol e perdido um pênalti, quem marcou foi o Brasil, em uma bola cruzada. No segundo tempo, o jogo ficou para o contra-ataque. As duas seleções tiveram várias oportunidades. Tardelli fez o segundo, em outra jogada aérea.

    Por precisar recuperar o prestígio, o Brasil, organizado e com muita garra, conseguiu um ótimo resultado. Outras seleções, como a Alemanha e a Argentina, estão na fase de poder perder.

    Mesmo quando a Argentina era superior, no primeiro tempo, Casagrande dizia que o jogo estava igual. No segundo, ele e Galvão Bueno fizeram grandes elogios ao destemperado Dunga e a Kaká, como se este ainda fosse uma estrela do futebol mundial. Agora, todos queriam a presença de Kaká e Robinho na Copa deste ano. Já começaram as opiniões tendenciosas, por ufanismo e para aumentar a audiência. Mudei de canal.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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