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    Tostão

    O urro do vencedor

    14/01/2015 02h00

    Cristiano Ronaldo mereceu o título de melhor do ano. Ele e Messi já estão entre os maiores da história. O português é mais completo como artilheiro, pois faz muitos gols, de todas as maneiras possíveis, enquanto Messi é mais completo como jogador e atacante, porque, além de fazer também um número absurdo de gols, dá, em quase todos os jogos, passes decisivos. Cristiano Ronaldo se destacou mais nos dois últimos anos porque o Real foi superior ao Barcelona.

    O urro de Cristiano Ronaldo, na premiação, um grito de guerra contra o rival Messi, mostra o quanto ele é ambicioso e obcecado. Todos os grandes craques também são, de maneiras diversas. Além de uma exuberante potência física, Cristiano Ronaldo é um artilheiro essencialmente técnico. Faz muito bem, no momento exato, o que precisa ser feito, sem adornos. Quando não marca, geralmente não brilha.

    Messi é uma mistura de habilidade, fantasia, improvisação e também de muita técnica. Possui um estilo mais fascinante. Não dá para medir, em números, os encantos de um craque. Por isso, por ser um magistral armador e artilheiro e ter mais títulos de melhor do mundo (são quatro contra três), Messi seria mais reverenciado pela história se os dois parassem hoje de jogar.

    Antes, Cristiano Ronaldo era um atacante pela esquerda, com a obrigação de voltar para marcar o lateral, o que não fazia bem. Com o técnico Ancelotti, passou a jogar ao lado de Benzema, mais perto do gol, e se tornou ainda mais artilheiro.

    Com Luis Enrique, Messi voltou a jogar pela direita, entrando em diagonal, como faz Neymar, pela esquerda. Suárez é o centroavante.

    Os dois e todos os grandes jogadores do mundo são endeusados porque brilham em seus clubes e/ou seleções por muitos anos. O Brasil precisa parar de supervalorizar atletas por causa de uma temporada. Assim como um telespectador da ESPN Brasil, não aguento mais ver, pela TV, o mesmo gol de Dudu. Ele só fez três no Brasileirão. Dudu é um bom jogador, veloz e habilidoso, como dezenas de outros produzidos no Brasil, nos últimos 20 anos.

    Tempos atrás, escrevi que o Brasil era o país dos Neguebas. Com qualidades diferentes, é também o país dos Dudus, dos Oswaldos, dos Luans e de dezenas de outros, com as mesmas características. Todos correm muito, são úteis, mas possuem pouca técnica e pouca lucidez. Enquanto isso, há mais de 20 anos, o Brasil não produziu um único craque meio-campista, mistura de volante e de meia.

    O Brasil, que foi o país do futebol, agora, é o da enganação. Fingem que está tudo bem. Por incompetência, desconhecimento, autoenganos e interesses comerciais, muitas vezes, escusos, promovem profissionais, contratam, vendem e pagam absurdos salários. Tudo irreal, uma mentira. O torcedor, consumidor, é enganado.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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