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    Tostão

    Prefiro o titês clássico

    01/04/2015 02h00

    Os dois amistosos da seleção confirmaram a presença de Firmino na Copa América, provavelmente como titular, ainda mais que Tardelli está desaparecido na China. Já Adriano, Douglas e Souza podem perder seus lugares. Philippe Coutinho também não foi bem e não está garantido. Ele e Douglas se limitaram a jogar encostados à lateral e a marcar os alas chilenos. Oscar e Willian, titulares, se movimentam muito mais, e há sempre um dos dois pelo centro, para armar as jogadas.

    Se o time não tivesse sofrido tantas modificações, cada um que entrou e que não jogou bem teria mais chances de atuar melhor. Mesmo assim, penso que a principal razão da má atuação coletiva e individual da seleção, com exceção de Jefferson e dos quatro defensores, foi a pressão dos chilenos em quem estava com a bola. Onde ela estava, havia vários chilenos para tomá-la.

    Uma das vantagens da seleção nas oito vitórias com Dunga tem sido a superação de jogadores para recuperar o próprio prestígio e o do futebol brasileiro. Depois da bela atuação contra a Espanha na final da Copa das Confederações, escrevi que estava preocupado pelo Brasil ter feito uma atuação heroica antes da hora e que não dá para ser herói quando quiser.

    Uma razão para ter esperanças em 2018 é minha teoria tendenciosa de que surge uma ótima geração a cada 12 anos. Depois de 1958, teve a de 1970, seguidas pela de 1982 (não ganhou, mas brilhou), pela de 1994, embora tivesse apenas um extraclasse (Romário), e pela de 2006, que perdeu com muitos craques. A próxima seria em 2018. Muitos dos que atuaram em 2014 poderão estar melhores no próximo Mundial. Mesmo com apenas um fora de série (Neymar), o Brasil poderá formar uma boa e eficiente equipe, como a de 1994.

    Hoje, é dia de Libertadores. As pesadas e excessivas críticas ao São Paulo são decorrentes, principalmente, da falsa expectativa criada por dirigentes, torcedores e parte da imprensa. Como se fosse um timaço, como se Luis Fabiano estivesse em seus melhores momentos, como se Pato fosse um craque, o que nunca foi, como se Kardec fosse jogador para a seleção e como se Ganso fosse um Alex. Enfiar uma bola precisa, milimétrica, entre os zagueiros é uma importante qualidade, mas não é suficiente para ser um craque.

    Criou-se um equivocado conceito de que o São Paulo é um time de estrelas que não funciona bem e que o Corinthians é uma equipe mais modesta que funciona muito bem, por causa do coletivo. A qualidade individual das duas equipes é mais ou menos a mesma. Se Guerrero fosse brasileiro, seria titular da seleção. Elias deve ser titular na Copa América. Gil é o primeiro da lista de espera para a zaga. Cássio está entre os melhores goleiros, um pouco abaixo de Jefferson. Se Douglas está na seleção, Jadson também poderia estar. Ele aprendeu com Tite a armar e a marcar pela direita. Há vários outros bons jogadores.

    Tite é também o treinador brasileiro que melhor reúne conhecimentos técnicos com capacidade de comando. Ele está mais seguro após o período sabático. Piorou apenas nas entrevistas. Parece ter feito um curso de oratória para grandes plateias. Seu discurso está muito formal, técnico, tecnicista, professoral e pastoral. Prefiro o titês anterior. O titês clássico.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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