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    Tostão

    Luxa, diante do espelho

    24/05/2015 02h00

    Na entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, Luxemburgo quis mostrar uma sabedoria e uma credibilidade que não tem. Foi contraditório, às vezes, incompreensível. Faz o mesmo discurso de 20 anos atrás, quando era o mais vitorioso técnico de clubes do Brasil, embora não tenha sido campeão da Libertadores.

    Esse longo tempo, em que Luxemburgo e outros treinadores foram tratados como supertécnicos, foi, paradoxalmente, uma época medíocre, de regressão do futebol brasileiro.

    Predominava o excesso de faltas, de simulações, de violência, de chutões, de jogadas aéreas, com partidas tumultuadas e truncadas. O jogo ficou mais feio e ineficiente. Proliferavam os volantes brucutus, um para proteger os zagueiros e mais um de cada lado, para a cobertura dos laterais. As equipes dependiam, ofensivamente, do avanço dos laterais e de um único meia, responsável pela armação das jogadas.

    Enquanto isso, os europeus, preocupados com a qualidade do espetáculo e em faturar mais, melhoraram os gramados, o conforto e a segurança nos estádios. A violência diminuiu, dentro e fora de campo.

    As partidas passaram a ser menos faltosas e menos violentas. Formaram-se duplas pelos lados, entre os laterais e os meias. Armadores brilhantes, que marcavam e apoiavam, com pouca força física e que eram pouco valorizados, como Xavi, Iniesta e outros, passaram a ser os grandes craques do futebol mundial.

    Os técnicos brasileiros que mais se destacavam nessa época, como Luxemburgo, Felipão e outros, são os que têm tido mais dificuldade de assimilar as mudanças que houve no futebol mundial e que, recentemente, chegaram ao Brasil, com Mano Menezes, no Grêmio, Tite, no Corinthians, campeão mundial de clubes, seguidos por Marcelo Oliveira e outros treinadores.

    Um dos motivos disso é que os técnicos mais vitoriosos de um período acham que o que deu certo tem de ser repetido. Querem ser mais importantes que a ciência.

    Anos atrás, Luxemburgo disse que seu maior problema no Real Madrid foi ter se sentido um Zé Mané, inibido, não ter imposto o prestígio que tinha no Brasil. Imagino que sentiu falta da badalação de grande parte da imprensa.

    Na entrevista, Luxemburgo defendeu, com veemência, uma grande ajuda do governo aos clubes, uma mamata oficial, e colocou as contrapartidas como algo secundário, a serem discutidas. Ao ser contestado, mudou o discurso e falou da importância de o clube dar alguma coisa em troca. Foi novamente contraditório ao ser contra a decisão do Flamengo de colocar no estatuto punições duras para dirigentes irresponsáveis, o que faz parte do projeto do governo para refinanciamento das dívidas.

    Luxemburgo costuma criticar a imprensa por criticá-lo, quando quer ser, além de um técnico, um gestor. Argumenta que a mesma imprensa elogiava Alex Ferguson por ter as duas funções. A grande diferença é que Ferguson conquistou, com o tempo, credibilidade.

    Hoje, Luxemburgo é apenas um técnico comum, bom, como tantos, embora não perceba. Diante do espelho, deve dizer: "Eu sou o Luxa, o supertécnico, o superestrategista, o que tem o melhor projeto".

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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