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    Tostão

    Craques não são super-homens

    14/06/2015 02h00

    Se houvesse, para valer, uma profunda mudança na estrutura e uma limpeza de nomes na direção do futebol brasileiro, o Bom Senso F. C. deveria participar ativamente, pelos conhecimentos adquiridos e pela independência.

    Alguns técnicos brasileiros têm tentado jogar de uma maneira moderna, seguindo o padrão das grandes equipes do mundo, mas têm tido muitos problemas.

    Uma coisa é usar uma linha de três meio-campistas na marcação, com um mais recuado e mais um de cada lado, que desarmam como volantes e avançam como meias, como fazem Barcelona, Real Madrid e outros. Se quiser, pode dizer que são três volantes. Outra, bem diferente, é atuar apenas com um volante e dois meias ofensivos, que estão sempre perto da área e não conseguem voltar para marcar ao lado do volante, como tem ocorrido no Atlético-MG.

    No sistema tático mais usado, com dois volantes, três meias e o centroavante, quando o time perde a bola, marca com uma linha de quatro no meio-campo (dois volantes e um meia de cada lado). Tem de ter, no mínimo, três. A seleção de 1970, 45 anos atrás, tinha Gerson, Rivellino e Clodoaldo na proteção dos quatro defensores.

    Além disso, as grandes equipes, quando atacam com muitos jogadores, perdem a bola e percebem que não dá tempo para retornar e marcar mais atrás, tentam recuperar a bola aonde a perderam, para evitar o contra-ataque.

    Outra tentativa de jogar um futebol moderno, mas que tem tido problemas, é adiantar os zagueiros, como faz a maioria das melhores equipes do mundo. O Fluminense, no ano passado, com Cristóvão, sofreu muitos gols, com bolas lançadas nas costas dos defensores. Ocorre o mesmo com o atual Atlético-MG. Para funcionar bem, é preciso ter zagueiros velozes e inteligentes que antevêem o lance e goleiros que sabem jogar fora do gol e que sejam rápidos para chegar antes dos atacantes. Não é para qualquer um.

    Foi bonita e simples a festa de abertura da Copa América. O Chile é um dos candidatos ao título, especialmente por jogar em casa, mas há uma supervalorização da atual geração. Apenas Vidal e Sánchez são titulares de grandes equipes do futebol mundial. A força principal do Chile é coletiva.

    O Brasil estreia hoje contra o fraco Peru. Apesar das dez vitórias seguidas, continua a desconfiança sobre a seleção. Com Felipão, o Brasil ganhou também quase todas as partidas amistosas e a Copa das Confederações, antes do Mundial. Os 7 a 1 são uma profunda ferida, difícil de ser cicatrizada, um jogo que nunca acaba.

    As duas últimas más atuações da seleção são mais uma demonstração da enorme dependência de Neymar. Alguém vai dizer que ele entrou no segundo tempo, contra Honduras, e o time até piorou. É verdade, mas ele atuou como se estivesse na festa do título do Barcelona.

    Os grandes craques, após uma grande conquista, quando são submetidos a enorme pressão para ganhar e brilhar, costumam se desconcentrar, ainda mais quando têm, imediatamente, outro desafio, como ocorre com Messi e Neymar. Tomara que isso não seja problema. Os dois são supercraques, mas não são super-homens.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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