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    Tostão

    Nem toda unanimidade é burra

    17/06/2015 02h00

    No futebol, é frequentíssimo alguém dizer ou fazer algo discutível, os companheiros repetirem, se disseminar e se tornar uma verdade.

    É mais fácil seguir um padrão do que tentar inovar, contestar e discutir. Quando Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra, referia-se a essa falta de diversidade. Somos todos diferentes.

    Nem toda unanimidade é burra. Quem não concorda que Neymar é um craque é doente da alma e enxerga pouco. A dúvida está na comparação com os maiores de outras épocas. Não disse que Neymar é o melhor jogador brasileiro depois da Era Pelé. Escrevi que poderá se tornar.

    Imagino que será, pelo imenso e belíssimo repertório, e não apenas pelo número de gols que fará. Em um período maior, muito mais importante que o número é a média de gols, desprezada em muitas estatísticas.

    Não deveríamos misturar a admiração e as críticas à pessoa com as qualidades técnicas do jogador.

    Nas comparações, costumamos nos esquecer de Garrincha, por causa do tempo e por seu estilo incomparável, fora do padrão das análises técnicas. No Botafogo, quando recebia a bola, nenhum companheiro podia chegar perto, para não atrapalhá-lo. O Botafogo jogava no 4-2-3-Garrincha.

    Ocorre algo parecido com Neymar na seleção. Ele é tão superior aos outros, que, cada vez mais, descola do conjunto, para tentar decidir sozinho. Isso poderá trazer problemas, pois, nem sempre, ele vai brilhar tanto. No Barcelona, Messi e Neymar fazem parte do jogo coletivo. Messi, na seleção argentina, segue, na maneira de jogar, mais ou menos o padrão do Barcelona. Já Neymar é outro no time brasileiro, na posição e na postura. Tenta mais jogadas individuais. É um dos motivos de, às vezes, Neymar brilhar mais que Messi nas seleções.

    O Brasil não fez uns cinco gols na fraquíssima defesa do Peru porque Neymar tinha de fazer quase tudo. Pareciam duas partidas em uma só. Uma entre Brasil e Peru, de nível médio, com pouquíssimo brilho, e outra, quando a bola chegava a Neymar. Hoje, contra a Colômbia, o ataque brasileiro não terá a mesma moleza.

    Discordo que o Brasil não joga melhor por causa de Dunga e que, cada vez mais, se parece com Portugal, pela dependência de Cristiano Ronaldo. O Brasil não joga melhor porque só tem um craque, mas possui um sistema defensivo muito superior ao de Portugal. A equipe marca muito bem, quase sempre com uma linha de quatro no meio-campo (dois volantes e um meia de cada lado), na proteção dos defensores. Defender bem é também importante. Com Thiago Silva, ficaria ainda melhor.

    Melhor defesa foi o que faltou ao Chile, mais uma vez, no empate contra o time B do México. Além da pouca qualidade individual e da baixa altura dos defensores, a equipe marca por pressão, no campo do adversário, e deixa muitos espaços na defesa.

    Já o ataque é uma avalanche. Valdívia jogou muito bem, porque entrou no estilo da equipe, de muita movimentação do meio para frente, de pressionar e recuperar a bola perto do gol adversário. Se não fizer isso, não joga. No Palmeiras, só quer a bola no pé.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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