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    Tostão

    Um dia de craque

    21/06/2015 02h00

    Independentemente da derrota por 2 a 1 e da atuação contra a Sérvia, na final do Mundial Sub-20, a principal questão é se, neste time e em outros de base, há jogadores com grande potencial de se tornarem excepcionais, destaques da seleção principal e das maiores equipes do mundo.

    O Brasil continua produzindo, em série, para exportação, um grande número de bons, ruins e ótimos jogadores, mais que os outros países, mas desapareceram os especiais. Isso ocorre por dezenas de motivos, como a deficiência dos treinadores, desde as categorias de base, as promíscuas relações comerciais, a busca por enormes lucros e a pouca preocupação com qualidade técnica.

    A Alemanha não tem um Neymar, mas tinha, na Copa de 2014, vários excepcionais jogadores (Neuer, Kroos, Schweinsteiger, Lahn e Müller), que, antes do Mundial, estavam na lista da Fifa dos 23 melhores do mundo. O mesmo ocorreu com a Espanha, campeã do mundo em 2010 e bicampeã da Europa, em 2008 e 2012.

    Estamos também atrasados no jogo coletivo. Durante um longo tempo, os técnicos privilegiaram conceitos equivocados, medíocres, o jogo truncado, compartimentado e a falta de troca de passes, com apoio de muitos jornalistas esportivos, que só agora se tornam críticos.

    Não houve surpresa na vitória da Colômbia. Sem o brilho de Neymar (teve uma péssima atuação), as equipes ficam no mesmo nível. Neste jogo, a Colômbia foi superior. Neymar precisa adquirir, na seleção, o equilíbrio entre tentar muitas jogadas individuais, pois isso é o que pode decidir as partidas pelo Brasil, e a sabedoria de esperar o momento certo para brilhar. Ele, aos poucos, tem conseguido isso no Barcelona.

    Às vezes, o grande craque não tem nenhuma chance de fazer uma jogada magistral e decisiva. Mas precisa participar do jogo coletivo.

    Neymar mereceu a suspensão de quatro jogos. A punição será educativa. Ele não pode dar tantos chiliques e achar que pode tudo. A faixa de capitão fez mal a ele. Ele não é o único. Muitos dos maiores jogadores da história também tiveram problemas com o fisco, atuaram mal várias partidas, mostraram grande descontrole emocional e foram arrogantes nas derrotas.

    Nelson Rodrigues, com seu delicioso exagero, dizia que a maior qualidade de Pelé era a imodéstia absoluta.

    Na semifinal da Copa de 1970, Pelé deu uma cotovelada no uruguaio Fontes. Se fosse hoje, provavelmente, o árbitro o teria expulsado. Mesmo se o Brasil, com dez, vencesse, Pelé não jogaria a final, e se o Brasil não fosse campeão, o mundo, até hoje, falaria do descontrole emocional do Rei.

    Hoje, existe a possibilidade de os jogadores se agigantarem, se superarem, para mostrar que o time não é só Neymar, ainda mais que é contra a Venezuela, e não contra a Alemanha. Podem se tornar os protagonistas, por não terem que esperar que Neymar resolva tudo. Estava muito chato o discurso dos atletas, tipo: "Perdemos nosso capitão, nosso melhor jogador". Só faltava chorar no microfone.

    Assim como Neymar teve seu dia de jogador mediano, quem sabe, hoje, alguém tenha seu dia de craque?

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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