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    Tostão

    Os loucos pragmáticos

    28/06/2015 02h00

    Independentemente do sistema tático, existem, hoje, basicamente, três estratégias de jogo, em todo o mundo, cada uma com suas variações. Para funcionar bem, todas dependem da qualidade e das características dos jogadores e da eficiência com que os atletas executam o que foi planejado.

    A primeira, usada pela maioria dos treinadores, é tentar atacar e defender com muitos jogadores. Para isso, adoram quatro "palavras mágicas", bastante repetidas pela imprensa: equilíbrio, entre defesa e ataque; intensidade, pela movimentação e vibração; recomposição, a volta para marcar, quando o time perde a bola; e "propor o jogo", comandar a partida.

    A segunda estratégia, usada pelas equipes pequenas e/ou inferiores, é formar duas linhas de quatro ou uma de cinco e outra de quatro, próximas à área, fechar os espaços e contra-atacar ou jogar por uma bola, outra expressão adorada por técnicos e comentaristas. Como era esperado, o Uruguai fez isso contra o Chile. Na maior parte do jogo, ficou acuado, defendeu muito bem, mas perdeu por uma bola.

    A terceira, usada por pouquíssimos treinadores, é a do Chile, de pressionar com sete ou oito jogadores no campo do adversário, tentar recuperar a bola onde a perdeu, em vez de recuar para marcar, trocar muitos passes, com intensa movimentação, até que alguém se infiltre para receber a bola e fazer o gol.

    Sampaoli, técnico do Chile, aprendeu com Loco Bielsa, que foi também mestre de Guardiola, que bebeu na fonte de Cruyff, que se inspirou em Rinus Michels, seu técnico e do Carrossel Holandês, em 1974. São todos românticos, visionários, para se contrapor à monotonia, às rígidas regras e ao dogmatismo de outros técnicos, como Dunga.

    Muitas vezes, essa loucura chilena não funciona. Quando o time perde, criticamos a baixa estatura dos defensores e os espaços deixados na defesa para o contra-ataque do adversário. Já Sampaoli está mais preocupado em ter zagueiros habilidosos e com bom passe, para facilitar o jogo ofensivo. Além disso, como o Chile, geralmente, domina a partida, dá poucas chances ao adversário de jogar a bola na área.

    Há várias maneiras de vencer e de perder. As dos Chile são mais prazerosas. Imagine as mais fortes seleções do mundo, com mais qualidade individual, jogando no estilo dos chilenos. Sampaoli acredita que essa é a maneira mais pragmática para ganhar. São os visionários, os loucos racionais, apaixonados pela ciência e pelo desconhecido.

    TRISTE FUTEBOL

    O mais triste da eliminação foi ver o modesto time do Paraguai, com jogadores que conhecemos bem, como Aranda, Piris e Cáceres, atuar melhor que o Brasil. O time brasileiro só criou uma chance, a do gol. Thiago Silva, como tinha feito no PSG contra o Chelsea, jogou vôlei e cometeu um pênalti. Sem Neymar, esse é o nível de nosso futebol.

    Além da pouca qualidade individual e coletiva, a Seleção vive o complexo da enorme expectativa e responsabilidade criada pela história do futebol brasileiro. Faltam, nas decisões, confiança e equilíbrio emocional a jogadores sem grande brilho. Amarelam.

    Sugestão de chamada: Faltam ao futebol, em todo o mundo, mais técnicos visionários, loucos pragmáticos

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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