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    Tostão

    O doente está mal, mas tem cura

    29/07/2015 02h00

    Juan Carlos Osorio, em entrevista à Folha, sintetizou bem a maneira de jogar do futebol brasileiro, de muita emoção e de pouco controle do jogo.

    As equipes correm muito, jogam muitas bolas na área, atuam com muita intensidade e emoção e vivem de sobressaltos, de lances picados, individuais, isolados, às vezes, bonitos. Há pouca troca de passes e pouco domínio da bola e do jogo.

    Osorio falou ainda que os jogadores brasileiros precisam aprender a tomar decisões certas, o que concordo. Para isso, é necessário lucidez, técnica e controle emocional. O típico jogador brasileiro é veloz, habilidoso, individualista e confuso. Ameaça muito e realiza pouco.

    Os times atuam muito separados. Uma das razões de as maiores equipes do mundo não terem mais um clássico meia de ligação é o pouco espaço entre os setores e a pouca distância entre o jogador mais recuado e o mais adiantado. Se há poucos espaços entre a defesa e o ataque, não há motivo para dividir o meio-campo entre os volantes, que marcam e jogam do meio para trás, e os meias ofensivos, que criam, atacam e jogam do meio para frente. Os meio-campistas fazem a dupla função.

    Há também coisas boas acontecendo no futebol brasileiro. Além do aumento da média de público, do tempo de bola em jogo, do maior número de bons gramados e da diminuição do número de faltas, existe uma tentativa de se jogar um futebol melhor, como fazem, principalmente, Atlético-MG e Palmeiras. As duas equipes associam, em uma mesma partida, a posse de bola e a troca curta de passes com rápidos contra-ataques. Essa união de estilos é hoje a maior evolução do futebol mundial.

    No primeiro gol do Palmeiras sobre o Vasco, Arouca, no próprio campo, tocou para Rafael Marques, avançou, recebeu a bola na intermediária e passou para Leandro Pereira fazer o gol. Rafael Carioca e Giovanni Augusto, destaques do Atlético-MG, são dois armadores que se completam.

    Outras equipes têm jogado bem, como Grêmio e Sport. Falta ao time gaúcho mais agressividade no ataque. O jovem Luan, uma promessa, tem muita habilidade, criatividade, velocidade, se movimenta bastante, mas, para ser um jogador excepcional, precisa ser mais decisivo no ataque. Maicon, capitão do time, desarma no próprio campo, toca, avança, recebe, toca e faz todo o time trocar passes. No São Paulo, diziam que ele era muito lento. Ele é muito superior aos atuais volantes do time paulista.

    Faltam ao futebol brasileiro mais jogadores excepcionais, especialmente do meio para frente. A maior qualidade da seleção da Espanha, seguida pela da Alemanha, que dominam o futebol desde 2008, é a presença de vários jogadores de alto nível, intermediários entre um Neymar, um Messi, um Cristiano Ronaldo, e os bons, como Oscar, William e tantos outros que o Brasil possui.

    Um Neymar surge do nada, sem programação. Já os excepcionais podem ser formados. Porque eles desapareceram do futebol brasileiro? Para encontrar soluções e um bom tratamento para um doente, é necessário ter um amplo e correto diagnóstico. O doente, o futebol brasileiro, está mal, mas tem cura.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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