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    Tostão

    Instantes fugazes

    30/08/2015 02h00

    As expulsões corretas de Bruno Rodrigo, do Cruzeiro, contra o Palmeiras, e de Wellington Carvalho, do Ceará, contra o São Paulo, e o grave erro do árbitro ao dar cartão vermelho a Leonardo Silva, do Atlético-MG, contra o Figueirense, contribuíram para os resultados, embora São Paulo e Palmeiras já fossem muito superiores, antes de ficarem com um jogador a mais.

    Expulsões, contusões, erros de árbitros, bolas perdidas, acasos, que não sabemos onde e quando vão ocorrer, e tantos outros detalhes e instantes fugazes mudam a história de uma partida, de um campeonato, ainda mais em jogos mata-mata. Por muito pouco, por muitos quases, fazemos isso ou aquilo, somos uma coisa ou outra, ganhamos ou perdemos. "Viver é um descuido prosseguido" (Guimarães Rosa).

    Os treinadores, em vez de tentar controlar o acaso, o que é impossível, deveriam tentar surpreender. Pela primeira vez, vi, desde o início, um time dirigido por Marcelo Oliveira fugir do sistema tradicional (4-2-3-1) e escalar um volante (Amaral) e dois armadores (Robinho e Zé Roberto), que recuavam e avançavam.

    Os rápidos e habilidosos Gabriel Jesus, mais pela esquerda, e Dudu, mais pelo centro, se movimentavam e não tinham posições fixas. Não havia um meia pela direita, como é habitual. Não havia simetria. Isso confundia a marcação.

    Definir uma maneira de jogar e repeti-la, durante todo um campeonato, é importante, mas, com frequência, torna o time muito certinho, previsível, monótono, linear, sem capacidade de surpreender.

    Há 20 anos, critico os chutões do futebol brasileiro e elogio a tentativa dos grandes times europeus de trocarem passes da defesa até o gol.

    Por outro lado, quando vejo hoje as grandes equipes da Europa, especialmente as inglesas, tenho a impressão de que o jogo, mesmo bonito, é uma repetição dos anteriores, com os mesmos lances e movimentos. A repetição é importante, pois melhora a qualidade técnica, mas, quando é excessiva, torna-se chata e previsível.

    O ser humano é um animal de hábitos, de repetição. Costuma repetir, sem pensar nem questionar. Mais fácil que criar é repetir. Quase todos os times jogam com dois volantes, uma ao lado do outro, e um meia de cada lado, colados às laterais. Tudo simétrico.

    Ainda bem que existem os craques, transgressores, que constroem algo novo. Aí, alguém copia, todos tentam fazer o mesmo, e o que era diferente, inusitado, deixa de ser surpreendente.

    Por isso, compreendo as intenções de Osorio, de tentar fazer, a cada jogo, algo diferente. Levir Culpi gostou da "invencionice" do colombiano e escalou o lateral-direito Patric de ponta esquerda, contra o Figueirense. Por causa da expulsão de Leonardo Silva, Levir colocou outro zagueiro e tirou Patric, no meio do primeiro tempo. Ficamos sem saber se a "maluquice" daria certo.

    Reconheço as virtudes dos técnicos dogmáticos, repetitivos, como Dunga, mas eles, com suas certezas, não me encantam, mesmo nas vitórias. Embora não concorde com uma ou outra escalação de Osorio, torço por ele e por todos os técnicos inventivos, que gostam de surpreender e de sair da mesmice.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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