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    Tostão

    Sonhar com os pés no chão

    02/09/2015 02h00

    Há vários jovens bons de bola nos times brasileiros. Não dá para saber até onde vão chegar. Bons já temos demais, espalhados pelo mundo. Faltam os excepcionais, de nível intermediário entre os bons e um Neymar.

    Por causa de dois jogos, os apressados já exageram nos elogios ao habilidoso e promissor Gabriel Jesus. É o futebol midiático, dos melhores momentos, da repetição e da supervalorização de lances isolados, da construção de heróis e vilões a cada jogo, como se lances individuais representassem o todo, a realidade. O jogo coletivo fica esquecido. A sociedade do espetáculo não gosta de futebol, gosta de consumir e descartar.

    Nos próximos dias, a seleção jogará dois amistosos, contra Costa Rica e EUA. O time tem atuado com uma dupla de atacantes (Neymar e um centroavante), um meia de cada lado, dois volantes e quatro defensores (4-4-2). Falta o armador de talento, organizador, ainda mais que os dois volantes são mais marcadores do que apoiadores.

    Se Neymar jogasse pela esquerda, no 4-2-3-1, teria de voltar para marcar o lateral, o que o deixaria longe do gol, ainda mais que o time não tem um ótimo centroavante.

    Há outras opções. Uma delas seria jogar como o Barcelona (4-3-3), com uma linha de três no meio-campo e outra no ataque (Douglas Costa, pela direita, que tem brilhado no Bayern, um centroavante e Neymar, pela esquerda). Guardiola disse que o Brasil deveria usar pontas agressivos, dribladores.

    A seleção e a maioria das equipes brasileiras jogam com dois volantes marcadores, um ao lado do outro, e com um meia de ligação, único responsável pela armação das jogadas e que não participa da marcação, o camisa 10 que os brasileiros tanto sonham. Prefiro ter apenas um volante e um armador de cada lado, que marcam, apoiam e atacam, como joga o Barcelona, o Corinthians e outras equipes. O time fica com dois armadores, em vez de um e, quando perde a bola, marca com três no meio, em vez de dois.

    O mundo do futebol ficou curioso com a escalação do Bayern no último jogo, sem um típico zagueiro. O time já tinha jogado dessa forma, e Guardiola fez o mesmo, em algumas situações, no Barcelona. Não havia zagueiros, mas dois laterais (Alaba e Lahm) e um volante (Xabi Alonso), que atuaram na posição de zagueiros. Os três estão acostumados a marcar, nas posições de origem, e, quando estavam com a bola, tinham um passe muito superior ao dos melhores zagueiros.

    Guardiola é um técnico revolucionário, eficiente, importantíssimo para o futebol mundial, pois espalhou seus conceitos pelo mundo, mas, para ser adorado, para sempre, pelos torcedores do Bayern, terá de ganhar a Liga dos Campeões. Para ter mais chances, penso que teria de ser mais realista. Se jogar contra o Barcelona ou o Real Madrid, com os zagueiros, típicos ou não, na linha do meio-campo, diante de atacantes magistrais e velozes, provavelmente, vai ser eliminado novamente, como nas duas últimas edições.

    Imagino que Guardiola queira ganhar a Liga dos Campeões do jeito que gosta. Será mais emocionante e bonito. "A vida é sonho" (Pedro Calderón de la Barca).

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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