• Colunistas

    Tuesday, 07-May-2024 13:00:32 -03
    Tostão

    Me engana que eu gosto

    18/10/2015 02h00

    A seleção brasileira teve muito mais facilidade para ganhar da Venezuela, que a Alemanha, para vencer a Geórgia, um time também inferior. Uma das razões são as características dos jogadores alemães, mais técnicos que habilidosos, mais passadores que dribladores. Quando pegam uma mamata, jogam como se fosse contra um forte adversário, com a mesma estratégia, de muita troca de passes, posse de bola e com poucos espaços entre os setores.

    Já os jogadores brasileiros, mais dribladores, velocistas e condutores de bola, aproveitam quando enfrentam uma equipe inferior, ainda mais quando o adversário sofre um gol antes do primeiro minuto, vai todo para frente, deixa enormes espaços no meio-campo e na defesa e possui zagueiros ruins. Mesmo assim, só Willian brilhou contra a Venezuela.

    Times bons e vencedores não são os que dão show e empolgam apenas contra fracos adversários, e sim os que jogam bem e com eficiência contra todos e que, de vez em quando, também encantam.

    Após a vitória sobre a Venezuela, voltaram a turma do oba-oba, os pachecões e os discursos de que o time jogou muito bem e que corrigiu as deficiências que teve contra o Chile. Dunga deu nota 8,5 para a equipe. É o me engana que eu gosto.

    A Venezuela teve os mesmos espaços que teve o Chile, na primeira rodada. Apenas não aproveitou. No segundo gol, Sánchez conduziu a bola, livremente, do meio-campo até a área. Marcelo saiu da lateral para combatê-lo e foi considerado o culpado pelo gol. No primeiro, colocaram a culpa em Jefferson, um gol que nem Neuer evitaria. Após a Copa América, Dunga pôs a culpa nas ausências de Luiz Gustavo e de Oscar e no pênalti cometido por Thiago Silva. Se perder para a Argentina, quem será o culpado?

    Aliás, a Argentina, depois do Mundial e da saída do técnico Sabella, tem problemas parecidos com os do Brasil, na estratégia e na característica de vários jogadores. Tévez, Lavezzi e Di Maria adoram driblar e correr com a bola. Tata Martino e Dunga deveriam fazer um curso com Sampaoli.

    Dunga e todos os treinadores brasileiros gostam de colocar a culpa nas derrotas na falta de tempo. É óbvio que o tempo é importante, mas não é justificativa para todos os erros. Não existe mistério nem é tão difícil, em um curto período, formar um time compacto e que privilegia a troca de passes. O problema principal não é de tempo. É de conceito.

    As eliminatórias são parecidas com o Brasileirão. São longas, com jogos de ida e volta, as atuações das equipes se alternam e, provavelmente, próximo do fim, haverá uns dois ou três times à frente, distanciados, e muitos outros disputando uma ou duas vagas, para a Copa do Mundo ou para a Libertadores.

    Eu não tinha nenhuma preocupação de o Brasil ficar fora do Mundial. Após os dois primeiros jogos e as boas atuações e vitórias de Equador e Uruguai (as do Chile já eram esperadas), isso mudou. A chance de o Brasil não se classificar continua mínima, mas é factível, já que não há grande diferença técnica entre mais ou menos umas sete seleções, e são cinco vagas (quatro diretas e uma na repescagem). Caí na real.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024