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    Tostão

    Os novos espertalhões

    21/10/2015 02h00

    As mudanças de estilo em equipes acostumadas a jogar por um longo tempo de outra maneira ocorrem mais pelas características dos novos jogadores do que pelo desejo dos treinadores.

    Por causa da saída de Xavi e das chegadas de Rakitic, Suárez e, principalmente, Neymar, o Barcelona, com muita velocidade nos contra-ataques, é diferente do da época de Guardiola, com mais posse de bola e troca curta de passes.

    Por não ter Xavi nem Iniesta, por possuir alguns jogadores altos e velozes, como Müller e Lewandowski, e por ter pontas rápidos e dribladores, como Robben, Ribéry e Douglas Costa, o Bayern é também diferente do Barcelona dirigido por Guardiola. O time alemão une os dois estilos, o de marcação por pressão e troca curta de passes, com as bolas longas, aéreas e mais velocidade.

    A seleção brasileira privilegia os rápidos contra-ataques e os lances individuais porque possui jogadores com essas características, e não porque Dunga quer. Isso não impede que ele associe ao atual estilo o jogo mais compacto, com mais posse de bola e mais troca de passes, o que não tem feito.

    O Corinthians, melhor em tudo no Brasileiro, privilegia o jogo coletivo, mais o passe que o drible. Os dois são importantes. O passe é essencial, e o drible é o complemento. Não se deve inverter a ordem. Jadson, Elias e Renato Augusto não são volantes nem meias. São meio-campistas. Atuam de uma intermediária à outra. Quando o time perde a bola, marca com cinco (Ralf e mais uma linha de quatro à sua frente). Quando recupera a bola, os quatro avançam em bloco e se juntam a Vagner Love. Assim jogam as grandes equipes, como fez a Alemanha na Copa do Mundo.

    O Cruzeiro, com Mano Menezes, tem jogado de uma forma parecida. Defende e avança com quatro ou cinco no meio. Em pouco tempo, o Cruzeiro, coletivamente, é outro time. Mas, se quiser no próximo ano disputar o título do Brasileirão, com Mano Menezes, Tite ou Guardiola, terá de contratar uns dois ou três bons reforços. Os técnicos são importantes, devem ser valorizados, mas não supervalorizados, na vitória ou na derrota.

    Mano Menezes, no Grêmio e na seleção brasileira, e Tite, campeão do mundo pelo Corinthians (mais vitorioso que Mano Menezes), começaram a mudar a maneira ultrapassada usada pelos times brasileiros, durante um longo tempo. Suas equipes passaram a atuar de uma maneira mais compacta, com mais troca de passes, com duplas pelos lados, formadas pelos laterais e pelos meias, com jogadores capazes de marcar e atacar e, quando perdiam a bola, defendiam com duas linhas de quatro. Hoje, os outros técnicos tentam fazer o mesmo.

    O futebol brasileiro precisa evoluir e diminuir a promiscuidade e as espertezas presentes em todos os setores e em todos os níveis, dentro e fora de campo. Durante muito tempo, proliferaram os jogadores-simuladores, que denegriram a imagem de nosso futebol em todo o mundo. Agora, começam a surgir os novos espertalhões, os especialistas em jogar a bola no braço dos adversários, com a colaboração das absurdas marcações de pênaltis pelos árbitros.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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