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    Tostão

    Só enxerga quem sabe ver

    04/11/2015 02h00 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Em 2001, vi, pela primeira vez, o tal do "nó tático", tão falado, um chavão do futebol, dado por Tite, técnico do Grêmio, no grande estrategista Luxemburgo, treinador do Corinthians, na decisão da Copa do Brasil, no Morumbi. Terminou 3 a 1 para o Grêmio. Poderia ter sido uma goleada. O Grêmio marcou por pressão, e o Corinthians não passou do meio-campo. Fiquei impressionado. Achei que Tite era o melhor técnico do mundo.

    Anos atrás, alguns torcedores do Atlético-MG disseram que Tite foi o pior treinador da história do clube. Deve ser por causa do rebaixamento, em 2005.

    Tite, em sua carreira, como todos os treinadores, teve sucessos e insucessos. Ele se preparou para ser o técnico da seleção. Estudou, evoluiu. Mas como os técnicos são supervalorizados, nas vitórias e nas derrotas, tudo o que ocorre em um jogo é visto como se fosse determinado pela ação dos treinadores. Neste ano, o Corinthians foi eliminado da Libertadores (no momento em que o time era endeusado, como hoje), da Copa do Brasil, além de perder o Estadual.

    Tite e Mano Menezes iniciaram, anos atrás, mudanças na maneira de jogar das equipes brasileiras. Antes, predominavam os chutões, os longos espaços entre os setores, a divisão no meio-campo, entre os volantes que marcam e um único meia, na armação das jogadas, o avanço dos laterais para jogar a bola na área, a marcação individual e muitas outras mediocridades. Paradoxalmente, foi a época dos supertécnicos. Falo disso há quase 20 anos. Não foi por causa dos 7 a 1.

    O sistema tático com quatro defensores, dois volantes em linha, três meias e um centroavante (4-2-3-1), chamado ainda de "esquema da moda", está ficando velho. Independentemente do desenho tático, o Corinthians e várias equipes da Europa jogam com apenas um volante, um centroavante e quatro jogadores entre eles, que marcam e atacam em bloco e que atuam de uma intermediária à outra. O Corinthians marca com cinco (Ralf e os quatro do meio) e avança com cinco (os mesmos quatro e mais Vagner Love). Nesta formação, não há a chata e ineficiente troca de passes laterais entre os dois volantes.

    O Corinthians e a maioria das equipes europeias não têm mais o clássico meia de ligação, que quase todos no Brasil sonham. Elias (ou Rodriguinho), Renato Augusto, Jadson e Malcom, pela esquerda, fazem essa função.

    Outra qualidade do Corinthians é alterar, durante a partida, a marcação mais recuada para contra-atacar com a por pressão, como fez contra o Atlético-MG. Isso evitou que o Galo pressionasse e tomasse conta do jogo.

    Durante grande parte do campeonato, o Atlético-MG era considerado o time mais encantador. Bastou perder o jogo e o título para acabar o encanto. O futebol brasileiro vive de rótulos. Agora, o time que joga bonito é o Santos, enquanto o do Corinthians continua sendo o pragmático.

    O Corinthians, além e suas qualidades individuais e táticas, mostra, para quem sabe e quer enxergar, que jogar bem e bonito não é apenas usar de efeitos especiais. É bonito também a aproximação dos jogadores, a troca de passes, a triangulação, a capacidade de defender e de atacar com vários jogadores e outros belos detalhes coletivos.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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