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    Tostão

    Aposto no acaso e no mistério

    02/12/2015 02h00

    Descobri que eu era um excelente jogador quando, em 1969, nas eliminatórias para a Copa de 1970, olhei para o banco e vi, na minha reserva, Toninho Guerreiro, o melhor centroavante brasileiro, que eu tanto admirava, companheiro de Pelé, no Santos. Pensei: "Será que sou melhor que ele?"

    Neymar descobriu, na ausência de Messi, que é muito mais que um grande craque, mais que um fenômeno, que pode fazer quase tudo que faz Messi, o melhor do mundo.

    Nunca vi um time (fora as seleções) com dois jogadores juntos, tão fabulosos. Mais que isso, Messi e Neymar se entendem muito bem, pelo olhar, pelo movimento das pernas, pela respiração. Mais ainda, há, entre os dois, um terceiro craque, Suárez, que só não está entre os três melhores porque existe Cristiano Ronaldo.

    Gostei de Sampaoli entre os três melhores técnicos. Ele não foi escolhido porque o Chile ganhou a Copa América e sim porque, além de Guardiola, é o único treinador que organiza uma equipe de uma maneira diferente e eficiente.

    Hoje, quem ganhar a Copa do Brasil vai bater no peito e elogiar o planejamento. A decisão de Palmeiras e Santos de abandonar a chance de conseguir uma vaga na Libertadores pelo Brasileirão foi péssima. Um grande time europeu jamais faria o mesmo.

    Imagino que as maiores equipes do mundo, mesmo sabendo da importância da ciência esportiva, valorizam menos que os brasileiros os pequenos aumentos de substâncias encontradas no sangue, relacionadas ao esforço físico e que são usadas para poupar jogadores. A medicina, muitas vezes, não é exata, muito menos o futebol. A dosagem medida é uma referência, uma média. Não é igual para todos. É preciso relacioná-la com outros dados científicos e com a observação de cada atleta. "Não sois máquinas, homens é que sois" (Charles Chaplin).

    A avaliação de qualquer profissional, ainda mais de um treinador que depende de inúmeros fatores para o sucesso do time, deveria ser feita após um longo tempo. Luxemburgo já foi rotulado de "o maior estrategista do futebol brasileiro". Felipão e outros foram chamados de supertécnicos.

    Hoje, Tite é tratado como um sábio. Tornou-se até exemplo de gestor para todas as empresas. Falam que, se ele assumisse a seleção, o Brasil teria, em pouco tempo, um excepcional time. A mídia não tem limites. É péssimo ou o máximo. Tite é um excelente treinador, porém, menos, menos...

    Marcelo Oliveira, tão elogiado e vitorioso nos últimos anos, tem sido muito criticado pelo futebol ultrapassado que joga o Palmeiras. Concordo com as críticas. Ele é o responsável pela maneira de jogar da equipe, mas, certamente, não desaprendeu nem, imagino, mudou seus conceitos.

    O que teria ocorrido? Uma das razões é que ele não tem jogadores com as características de um Éverton Ribeiro, de um Ricardo Goulart e de um Lucas Silva, como tinha o Cruzeiro. Os três se completavam. Gabriel Jesus e Dudu são mais dribladores, velocistas. Além disso, acontecem, algumas vezes, coisas incompreensíveis em uma equipe, que fogem ao controle e ao desejo do técnico.

    Hoje, o Santos começa o jogo na frente. Não dá para prever nada. Aposto no acaso e no mistério.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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