• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 22:56:03 -03
    Tostão

    Festival de chavões

    03/02/2016 02h00

    No sábado, a vitória do Barcelona sobre o Atlético de Madri por 2 a 1 foi uma aula sobre como jogar bom futebol de dois representantes de estilos bem diferentes.

    O Barcelona é uma equipe compacta, que joga com os zagueiros adiantados, que tenta recuperar a bola aonde a perdeu, que troca muitos passes, que joga a maior parte do tempo no campo adversário, que raramente cruza a bola na área para contar com a sorte e que, com as chegadas de Neymar e de Suárez, passou também a ser um time de velocidade nos contra-ataques.

    O Bayern e o Real Madrid, dois outros timaços do futebol mundial, por terem atacantes altos e ótimos cabeceadores (Cristiano Ronaldo, Benzema, Bale, Lewandowski e Müller), fazem também muitos gols em jogadas aéreas.

    O Atlético de Madri é o maior representante dos times que, mesmo sem craques consagrados e que não fazem parte da lista dos melhores do mundo, disputam, com chances de ganhar, títulos nacionais e até a Liga dos Campeões da Europa. Contra o Barcelona e outros grandes times, associa a forte marcação na saída de bola do adversário, sempre com dois ou três jogadores pressionando quem vai recebê-la, com a marcação mais recuada, com oito ou nove bem posicionados e próximos à área. O time sofreu apenas dez gols em 22 jogos pelo Espanhol.

    Barcelona, Bayern, Real Madrid e Corinthians, em vez de atuarem com dois volantes, um ao lado do outro, e um meia de ligação pelo centro, jogam com apenas um volante e um armador de cada lado, que defendem e atacam. Rakitic e Iniesta não são volantes nem meias, são meio-campistas que atuam de uma intermediária à outra.

    O sistema tático do Barcelona, com três no meio e três na frente, só funciona muito bem porque a equipe marca por pressão, não deixa o adversário jogar e é muito compacta, com pouca distância entre os dez jogadores. Essa é uma vantagem coletiva sobre o Real Madrid, que não consegue fazer o mesmo. Se o Flamengo quiser atuar bem no 4-3-3, seguindo o modelo no Barcelona, após o estágio de Muricy no time catalão, precisa ter os jogadores próximos um do outro.

    Apesar de algumas tímidas mudanças, o futebol brasileiro continua refém da divisão que houve, há muito tempo, no meio-campo, entre os volantes que marcam e um único meia de ligação pelo centro, de quem se espera um passe espetacular para o centroavante fazer o gol. É o que querem ver Ganso fazer na estreia do São Paulo na Libertadores. Se não fizer isso e o time não ganhar, será duramente criticado, mesmo que jogue muito bem. É o mesmo raciocínio simplista sobre os centroavantes, que vivem em função do gol, como diz o chavão.

    Sempre que recomeça a Libertadores, volta o festival de clichês, como os de que "Libertadores é um campeonato diferente", que "os times brasileiros precisam ter jogadores que falam espanhol para conversar com o árbitro", que "os jogos são muito mais corridos e brigados", que "os árbitros marcam menos faltas", que "fulano tem espírito de Libertadores, e sicrano não tem", e tantos outros chavões que mediocrizam e dificultam a evolução dos times sul-americanos.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024