Pelas entrevistas dos técnicos brasileiros, parece que todos os times jogam um futebol moderno. Não é o que vemos na prática, por causa da pouca qualidade individual, da incompetência dos treinadores em fazer com que os jogadores executem bem o que foi planejado, porque alguns técnicos escutam o galo cantar, mas não sabem onde, pelos vícios acumulados durante um longo tempo ou por tudo isso.
Houve várias evoluções, mas continuam, com frequência, o excesso de chutões, de bolas lançadas na área, os enormes espaços entre os setores, a pouca aproximação dos atletas para trocar passes e os zagueiros encostados à grande área, mesmo quando o meio-campo avança. Pelas tantas críticas a Marcelo Oliveira, parece até que o Palmeiras é o único time que comete erros na maneira de jogar.
Outra deficiência do Palmeiras e de várias equipes é a má distribuição dos jogadores no gramado. Seja quem for escalado ou qual o sistema tático utilizado, o Palmeiras tem sempre um atacante pela esquerda, que volta para marcar, e não tem um pela direita. O armador escalado por este lado marca, mas não avança como um ponta. O lateral direito Lucas, que apoia bem e tenta ocupar o espaço mais à frente, não tem ninguém para trocar passes. Aí, joga a bola na área.
Contra o Tricordiano, o Cruzeiro cometeu o mesmo erro. Havia um atacante pela esquerda (Alisson), uma dupla pelo centro (De Arrascaeta e Willian), um trio no meio-campo, e ninguém avançava pela direita. O lateral Fabiano, sozinho e sem habilidade, se limitava a jogar a bola na área, para contar com a sorte.
O Flamengo pode evoluir bastante, pois tem três bons jogadores no meio-campo. Porém, contra o Fluminense, o argentino Mancuello, excepcional nas bolas paradas, não sabia se atuava como um meia de ligação, à frente dos dois volantes, ou mais recuado e à esquerda, na linha do armador pela direita (Willian Arão). O volante mais recuado e pelo centro, Cuéllar, marca bem e tem bom passe.
Prefiro, no meio-campo, em vez de dois volantes, um ao lado do outro, e mais um meia-de-ligação, o que é mais habitual, um trio formado em um triângulo invertido, com um volante, pelo centro, e um armador de cada lado, que marcam e atacam, como jogam o Corinthians, o Barcelona e outras equipes. Quando o time perde a bola, tem três para marcar no meio, em vez de dois, e, quando a recupera, avança com dois armadores, em vez de um.
Independentemente do sistema tático, há uma tendência de jogar com apenas um volante e de ter cinco jogadores que marcam no meio-campo (um volante, um armador de cada lado e dois pontas que voltam) e de atacar com cinco (dois armadores, dois pontas e um centroavante).
Não há mais razão para definir a maneira de jogar pelo sistema tático desenhado na prancheta, já que os jogadores não param de correr, ocupam mais de uma posição e executam mais de uma função durante a partida. O sistema tático muda a cada momento e, algumas vezes, independe das orientações do técnico, embora parte da imprensa insista em explicar tudo o que acontece no jogo por uma sacada genial ou uma besteira cometida pelo técnico.
Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.