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    Tostão

    O que não tem explicação

    28/02/2016 02h00

    O jornalista Sidney Garambone, no "Redação SporTV", disse que um jovem, na redação da TV, referiu-se a Messi como o Pelé que ele viu jogar. Entendi que Messi representa o que está no imaginário dele e de outros jovens sobre as histórias que escutam sobre Pelé, o máximo do talento.

    Os grandes craques costumam reunir muita habilidade, técnica, criatividade, lucidez e ótimas condições físicas e emocionais. O talento é a síntese de tudo isso. Cada craque se destaca mais por um detalhe, uma característica. Pelé foi o máximo dos máximos porque tinha, no mais alto nível, todas essas virtudes.

    Muitos confundem habilidade com técnica, criatividade e talento. Há craques que são pouco habilidosos, como Kaká e Rivaldo, mas não existe craque sem grande técnica. Robinho é extremamente habilidoso, mas não se tornou um craque por algumas deficiências técnicas.

    Há craques, como Neymar, Maradona e Ronaldinho, que, além de muita técnica, têm muita habilidade e adoram lances com efeitos especiais, para embelezar. Outros, como Pelé, Messi e Zico, raramente executam o lance sem objetivo. Provavelmente, nunca vou ver Messi dar o belo drible da carretilha, que Neymar gosta, embora possa ser também um recurso técnico.

    Neymar está aprendendo –Messi já sabe– a esperar o momento certo para fazer uma jogada belíssima e decisiva. Ele ainda perde muitas bolas.

    Existem também os craques, geralmente meio-campistas, que atuam de uma intermediária à outra, que jogam como se estivessem vendo a partida da arquibancada, com ampla visão do jogo, como Gerson e Xavi. Possuem muito talento individual e coletivo. Falta à seleção um meio-campista com essas características, do nível de Iniesta, Modric, Pogba, Thiago Alcântara e outros.

    Há ainda os craques volantes, que atuam de sua área até o meio-campo e que, às vezes, chegam à frente. Marcam muito e têm ótimo passe, como Busquets, Kroos e Xabi Alonso. É outro tipo de jogador que falta à seleção. São chamados, erradamente, de volantes modernos, já que, no passado, tivemos vários desses craques, como Falcão, Dino Sani, Zé Carlos, do Cruzeiro, e Cerezo. Eles não são volantes modernos. São volantes que sabem jogar futebol.

    Além dos volantes e dos meio-campistas, o Brasil não tem também um fenomenal centroavante. Não me perguntem quem foi melhor, Romário ou Ronaldo. Não sei. Eles não apenas faziam gols. Faziam gols lindíssimos e davam ótimos passes. Centroavante estático, que só finaliza, não é um típico centroavante, é um centroavante grosso.

    Segundo as estatísticas, Messi foi o jogador que menos correu na vitória do Barcelona sobre o Arsenal. Foi também o melhor. Ele não foi o melhor porque correu menos, mas seria o fato um indicativo de sua sabedoria, de não perder tempo com o que não é importante? Ou seria uma deficiência técnica, por não voltar para marcar pela direita, não recompor, a palavra da moda, uma exigência de todos os treinadores? Recompor é preciso. Saber jogar bem não é preciso.

    Existem mil estatísticas e explicações para tudo. A vida e o futebol continuam grandes mistérios.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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