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    Tostão

    O coletivo forma o jogador

    23/03/2016 02h00

    A seleção brasileira possui virtudes e deficiências, individuais e coletivas. A presença de quatro jogadores na seleção do mundo da Fifa de 2015 (Neymar, Daniel Alves, Thiago Silva e Marcelo) e o fato de o Brasil ter sido o país com mais titulares, 26, na última rodada da Liga dos Campeões, sendo que alguns foram destaques, são fatores animadores, positivos. A Espanha, segundo país, teve 17. Isso não apaga as várias deficiências do time brasileiro.

    Dunga não concordou com a seleção do mundo. Thiago Silva e Marcelo não foram chamados, e não ficarei surpreso se ele barrar novamente Daniel Alves. A justificativa do técnico para não convocar Marcelo, por causa de uma contusão, é conversa fiada, já que ele tem jogado normalmente e bem pelo Real Madrid.

    O futebol brasileiro e sul-americano, por privilegiar, há muito tempo, desde as categorias de base, o estilo de estocadas, de lances isolados e individuais, forma muitos bons meias e atacantes dribladores que atuam da intermediária adversária para o gol.

    Já a Europa, por privilegiar, desde a infância, o jogo coletivo, a posse de bola e a troca de passes, forma muito mais brilhantes meio-campistas que atuam de uma área à outra, além de volantes, que marcam e que têm ótimo passe.

    O estilo coletivo forma o tipo de atleta. O Brasil possui uns 500 bons jogadores de meio-campo, mas não tem um único excepcional, do nível dos melhores do mundo.

    Grandes meio-campistas são fundamentais para se formar uma grande equipe.

    Quando os velozes meias e atacantes brasileiros encontram espaço para driblar em direção ao gol, costumam dar show. Até a ligação direta da defesa funciona bem. Mas quando encontram defesas mais fechadas, com poucos espaços, o time tem grande dificuldade de trocar passes e dominar o jogo.

    Apesar de quase todos os atletas brasileiros atuarem em grandes equipes da Europa, a seleção joga mais no estilo que se pratica no Brasil do que no europeu. Falta ao Brasil um treinador, brasileiro ou estrangeiro, com experiência e sucesso no comando das melhores equipes do mundo.

    Como o Brasil não possui também um ótimo centroavante, Dunga, contra o Peru, escalou Neymar pelo centro e Douglas Costa e Willian pelos lados. Neymar atuou mal, não ficou à vontade, o que não pode ocorrer com o craque do time.

    Mas como o Brasil ganhou por 3 a 0, a maioria achou que foi tudo ótimo.

    Provavelmente, Dunga vai repetir a formação tática do jogo contra o Peru, com um volante (Luiz Gustavo) e um armador de cada lado, como joga o Corinthians. Assim fica melhor.

    O Uruguai não terá sua ótima zaga, a do Atlético de Madri, formada por Godín e Giménez, o que aumenta as chances do Brasil. O Uruguai deve atuar mais recuado, com duas linhas de quatro, para não deixar espaços para os velozes meias brasileiros.

    Todas as grandes seleções do mundo possuem, como o Brasil, virtudes e deficiências. Apesar do 7 a 1, das relações promíscuas e da troca de favores, uma praga nacional, que assola a CBF, o futebol, a política e parte da sociedade, a seleção continua forte, embora distante do que gostaríamos de ver.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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