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    Tostão

    Falta a miniatura de Cruyff na minha coleção de grandes ídolos

    25/03/2016 02h00

    Existe um grande número de craques que encantaram o mundo, mas são poucos os que foram além, que brilharam intensamente em outras atividades ligadas ao futebol.

    Cruyff é o maior destes. Ele foi muito mais que o maior jogador da história do futebol holandês e um dos dez melhores do mundo em todos os tempos. Foi também um grande técnico, crítico e pensador.

    Na Copa de 1974, Cruyff era o craque e líder da seleção holandesa. Ele contava que, 15 dias antes da competição, o técnico Rinus Michels o chamou para conversar, depois reuniu os demais jogadores e disse: "Como é muito difícil ganhar uma Copa, vamos fazer algo diferente, marcante".

    Nascia o carrossel holandês. Quando o adversário estava com a bola, surgiam vários holandeses para tomá-la. Todos defendiam e atacavam. Era a pelada organizada. Cruyff, teoricamente o centroavante, estava em todas as partes do campo.

    Começava a marcação por pressão, usada hoje por grandes equipes, especialmente por Bayern e Barcelona, influenciados por Guardiola, que bebeu na fonte de Cruyff, seu técnico, que se inspirou em Rinus Michels.

    Cruyff, Xavi e Gerson foram os três jogadores de mais talento coletivo que vi jogar. Atuavam sempre eretos, sem olhar para a bola. Eram treinadores no campo.

    Cruyff brilhou como jogador e técnico do Barcelona. Revolucionou o time catalão e, consequentemente, todo o futebol mundial, com seus conceitos, cada dia mais atuais, de posse de bola, troca de passes, aproximações, triangulações e futebol compacto.

    Cruyff foi também um ótimo crítico, franco, contestador. No Brasil, tentaram ironizá-lo, como se fosse um chato. Cometeu vários erros, como qualquer profissional, como o de criticar o Barcelona pela contratação de Neymar, por achar que não havia lugar, em um mesmo time, para mais um fenômeno, além de Messi. Foi uma demonstração de que tinha profunda admiração por Neymar, pois, naquele momento, havia incertezas se o brasileiro brilharia tanto no Barcelona.

    No dia em que a Holanda eliminou o Brasil na Copa de 2010, Dunga tinha mais de 80% de aprovação popular, e a maioria achava que o Brasil seria campeão. Cruyff, antes do jogo, com sua franqueza, falou que não pagaria para ver a seleção jogar. Foi criticado e incompreendido. Ele quis dizer que o time brasileiro não correspondia à grandeza de sua história. Foi mais um elogio que uma crítica.

    Tempos atrás, o Barcelona homenageou seus maiores ídolos, e Cruyff foi o mestre de cerimônia. Ele chamava os jogadores, elogiava e, quando chegou a vez de Romário, teria dito: "O maior de todos". Foi Cruyff quem disse que Romário era o rei da área.

    Nunca joguei contra Cruyff. Conversei, rapidamente, com ele uma única vez, no corredor de um shopping, em Joanesburgo, África do Sul, antes da Copa de 2010. Ele disparou a elogiar a seleção brasileira de 1970. Sabia todos os detalhes.

    Tive vontade de fazer uma tietagem, mas não tive coragem de dizer a ele que, há muito tempo, procurava uma miniatura com sua imagem para a minha coleção de grandes ídolos e personalidades que fizeram a história do mundo, nas áreas da arte e do conhecimento humano. Ainda vou achar.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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