Uma das discussões mais recorrentes nos programas esportivos e nos botequins é a comparação entre times brasileiros, sul-americanos e europeus. Penso que as melhores equipes da América do Sul estão no nível dos times médios da Europa. Há, no mínimo, 13 equipes europeias superiores às melhores do Brasil e da América do Sul: Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madri, Juventus, Bayern, Borussia, PSG, Manchester City, Manchester United, Tottenham, Liverpool, Chelsea e Arsenal.
Entre seleções, é diferente. Há seis seleções sul-americanas, Argentina, Brasil, Uruguai, Chile, Equador e Colômbia, mais ou menos do mesmo nível técnico das seis principais europeias (França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Bélgica e Itália). Isso ocorre, evidentemente, pela ida dos melhores jogadores sul-americanos para a Europa.
Nesta semana, Oswaldo de Oliveira, seguindo o discurso de outros técnicos, reclamou duramente das exageradas críticas da imprensa ao futebol brasileiro e dos muitos elogios aos europeus. É uma meia verdade. Como disse o genial Millôr Fernandes, "o perigo da meia verdade é você dizer exatamente a metade que é mentira".
Essas críticas são fortes por causa dos 7 a 1, dos inúmeros fracassos da seleção após a Copa de 2002, da pouca qualidade da maioria das partidas dos times brasileiros, do total descrédito que possui a CBF e também da falta de um ótimo centroavante e de um grande armador na seleção.
Atuações excepcionais, individuais e coletivas, de times brasileiros, como a do São Paulo contra o Toluca, são esporádicas, porém, animadoras. Até Centurión teve seu dia de craque.
Por causa dos vícios acumulados durante longo tempo e da divisão que houve no meio-campo entre volantes que marcam e meias ofensivos que atacam, a maioria ainda não percebeu a presença dos meio-campistas, essenciais ao futebol atual, síntese dos volantes e dos meias. O Brasil possui vários bons meias ofensivos, mas não tem um excepcional meio-campista, que não é produto da modernidade. Ele já existia (Falcão, Gerson, Cerezo e outros) e desapareceu com o tempo.
Durante uns 20 anos, enquanto os europeus evoluíram na parte técnica e coletiva, predominou no Brasil o excesso de chutões, de jogadas aéreas e de faltas, os enormes espaços entre os setores, os volantes brucutus, a dependência de um único meia de ligação e tantos outros conceitos ultrapassados.
Anos atrás, isso, lentamente, começou a mudar. Os discursos também mudaram. Agora, o que mais se escuta é "troca de passes", "posse de bola", "futebol compacto", "jogar de uma área à outra", "volantes que saem para o jogo", "goleiro que usa bem os pés" e tantos outros, que substituíram "futebol de pegada", "segunda bola", "volantes de contenção", "volante zagueiro", "zagueiro zagueiro" e dezenas de outros chavões.
É uma ilusão achar que em pouco tempo vai haver uma grande e constante evolução e que os melhores jogadores brasileiros não vão mais sair do país. O Brasil está na segunda divisão do futebol mundial, com chances de ir para a terceira, se não houver melhoras na economia e se não diminuir a corrupção, a irresponsabilidade, a incompetência e os muitos otimistas prepotentes que existem no futebol.
Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.