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    Tostão

    Queremos bom futebol

    18/05/2016 02h00

    Na Copa de 2006, percebi que o futebol tinha mudado. Estava mais coletivo e previsível. Predominava o passe seguro e a posse de bola. Driblava-se pouco. Quando perdiam a bola, as equipes voltavam para marcar e contra-atacar. Hoje, quase todos os times fazem o mesmo, porém com mais velocidade e intensidade. Alguns alternam a marcação mais recuada com a por pressão.

    No Brasil, com exceção do Corinthians campeão do mundo em 2012, dirigido por Tite, as equipes, antes da Copa de 2014, jogavam outro futebol, de muitos chutões, bolas longas, jogadas aéreas e disputas individuais. Depois dos 7 a 1 e de uma fase inicial em que os técnicos refutavam as críticas de que estavam ultrapassados, perceberam a defasagem, viajaram, estudaram e tentam agora seguir o que acontece no mundo. Mas não basta repetir. É preciso criar e improvisar no momento certo. Poucos sabem fazer isso.

    Grêmio e Corinthians, dois times modernos, fizeram um bom jogo coletivo, porém, sem brilho individual. São Paulo e Atlético-MG, organizados, marcaram muito e ofereceram poucas chances de gol. Essa é uma parte do jogo. A outra, a mais importante, que dá prazer de ver, não existiu. Os dois times deram um festival de pontapés, um horror. No mínimo, uns quatro deveriam ter sido expulsos.

    Em vez de dizerem que as duas equipes atuaram bem e que isso é Libertadores, os dois técnicos deveriam ter pedido desculpas ao futebol.

    Pontapés, agressões e excesso de faltas foram habituais durante muito tempo no futebol brasileiro, antes da Copa de 2014. Foi a época da pegada. Alguns treinadores gritavam na lateral do campo: "Pega, pega". Pegavam a canela do adversário em vez da bola. Não pode haver um retrocesso.

    Com a evolução da estratégia, surgiu, em todo o mundo, um novo fundamento técnico, a recomposição, xodó dos treinadores. Por isso, Aguirre gosta mais de Patric que de Cazares. O problema é que os que recompõem melhor são, geralmente, os piores. Há exceções, como Bale, do Real Madrid, Griezmann, do Atlético de Madri, quando atua pelos lados, Michel Bastos, do São Paulo, e outros.

    São Paulo e Atlético-MG ganharam com os reservas no Brasileiro. Bauza, como faz sempre, organizou uma boa defesa, facilitada pelas carências do Botafogo. O Atlético-MG, sem brilho, mas com boa recomposição, ganhou do Santos, desfalcado de seus dois melhores jogadores e da Vila Belmiro. A mística da Vila, presente no inconsciente coletivo dos jogadores, dos torcedores e da comissão técnica, é mais eficiente que a qualidade da equipe.

    O torcedor do São Paulo já incorporou o estilo de Bauza, de muita organização defensiva, o que não significa que a equipe não procure a vitória. Há várias maneiras de vencer. Já o torcedor do Atlético-MG gostaria de ver hoje a volta do estilo Galo Doido, das épocas de Cuca e de Levir, pressionando desde o início, mesmo correndo o risco do contra-ataque. Aguirre, mais cauteloso, racional, quer vencer, mas é muito preocupado com a recomposição.

    A disciplina tática e a forte marcação são importantes, mas não são incompatíveis com o futebol agradável, bem jogado e sem pontapés. Treinadores se contentam apenas com a vitória. Temos de exigir mais qualidade. Queremos bom futebol.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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