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Elo entre o passado e o presente
05/06/2016 02h00
Escrevi na coluna anterior que o Ganso atual, convocado para a seleção, é superior ao do Santos porque, além de dar decisivos e belos passes, atua em um espaço maior, participa mais da marcação e do jogo coletivo e faz mais gols.
Não é tanto assim. André Rizek, no Redação Sportv, mostrou estatísticas em que, na média, Ganso marcou poucos gols a mais no Santos de 2012 do que neste ano. Isso deve ter ocorrido porque o Santos tinha Neymar, era um time superior, mais ofensivo e com um futebol mais bonito que o São Paulo. Ganso tinha mais chance de brilhar. Hoje, ele é mais completo.
A estatística é importante para o conhecimento desde que não se perca a capacidade de enxergar as coisas belas e subjetivas. Isso também é objetivo. Nenhum aparelho é capaz de medir a lucidez, as emoções e os encantos dos atletas e das grandes equipes.
O leitor pode me achar incoerente em pedir a convocação de Ganso porque tenho falado muito na diminuição da importância de dois antigos pilares da maneira de jogar: dois volantes em linha e o clássico meia de ligação. Diminuíram, mas não acabaram. Ganso, Lucas Lima, Nenê e outros meias são fundamentais para seus times. Na Europa, esse tipo de jogador é menos valorizado.
Barcelona, Bayern, a seleção brasileira nos últimos jogos, o Corinthians durante anos, as principais seleções europeias e várias outras equipes têm atuado com apenas um volante e um armador de cada lado, que marcam e atacam, em vez de dois volantes e um meia de ligação, único responsável pela armação.
Nos últimos jogos, Tite rendeu-se à antiga máxima de que o treinador deve formar seu time de acordo com as características dos melhores jogadores. O time mudou e passou a jogar com dois volantes, três meias e um centroavante, para aproveitar melhor o talento de Guilherme mais próximo à área.
A seleção atual, que jogou as últimas partidas das eliminatórias e que enfrentou o Equador, pela Copa América, tem atuado com apenas um volante e um armador de cada lado (Elias e Renato Augusto), como jogava o Corinthians. Para Ganso atuar, teria de se adaptar a uma nova maneira de jogar, o que, neste momento, é difícil. Seria uma alternativa em outra opção tática.
A seleção brasileira na Copa de 1970 também jogava com um volante, Clodoaldo, e dois armadores que marcavam e avançavam (Gerson e Rivellino). Quando o time perdia a bola, Jairzinho, pela direita, voltava para marcar, formava uma linha de quatro no meio-campo e, em uma fração de segundos, chegava à frente para marcar gols em todas as partidas. Era um time moderno, sem a velocidade de hoje. Não confundir velocidade de alguns jogadores, como Jairzinho e Pelé, com a velocidade do jogo.
Não existe no futebol ou em qualquer atividade uma rígida divisão entre o antigo e o novo. Os tempos se misturam. A memória é o elo entre o passado e o presente, entre o corpo e a alma.
BRASILEIRÃO
A ausência de vários titulares nas equipes brasileiras, por causa da ida de jogadores para a seleção ou por contusões, mostra, pela atuação dos times, com poucas exceções, que os elencos são fracos. Algumas equipes têm sido mais prejudicadas que outras. Isso explica muitos resultados.
Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
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