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    Tostão

    A bola e a corrupção não param

    08/06/2016 02h00

    Nesta sexta-feira (10), começa a Eurocopa. Teremos, quase todos os dias, jogos da Copa América, das séries A e B do Brasileirão e da Eurocopa. O excesso de partidas acontece durante todo o ano, com tantas outras competições, sem falar nas dezenas de programas esportivos que discutem coisas importantes e inúteis. No dia seguinte à vitória da Argentina sobre o Chile por 2 a 1, já discutiam se o time argentino é melhor com ou sem Messi. Incrível! O ponto fraco da Argentina foi Gaitán, substituto de Messi.

    Como gosto de futebol e sou um colunista, tento ver a maioria das partidas e me informar sobre quase tudo. Passo parte do dia em frente à TV. Quando não estou ligado no futebol, acompanho a Lava Jato, a política, e acabo vendo tantas notícias de crimes, assaltos, estupros, violência nos estádios e em toda parte. Um horror. A vergonhosa miséria social do país passa a ser pouco falada. Não sobra tempo nem dá tanta audiência.

    A Lava Jato é a esperança. Políticos corruptos elogiam a operação e, ao mesmo tempo, com medo, não fazem nada para votar rapidamente as mudanças nas leis anticorrupção, propostas pelo Ministério Público.

    Às vezes, tenho devaneios de desaparecer, de viver em um lugar pequeno, sem televisão ou internet. Volto à realidade. É muito mais sensato tentar conciliar essa tragédia às minhas necessidades e prazeres. Preciso achar tempo para ir mais ao cinema, ler mais, escutar mais música, conviver mais com as pessoas queridas, passear e viajar mais e tantas outras coisas.

    Enquanto sonho, a bola rola, e a corrupção não para.

    A enorme diferença entre os melhores times da Liga dos Campeões e da Libertadores não existe entre as principais seleções da Eurocopa e da Copa América. Há um equilíbrio técnico.

    A França, por jogar em casa, por ter mostrado bom conjunto na Copa de 2014, por ser a seleção que mais revelou bons jogadores após o Mundial (Payet, Coman, Martial e outros) e por ter dois craques, Pogba e Griezmann, melhores do que estavam em 2014, é uma das fortes candidatas ao título da Euro.

    No amistoso entre França e Escócia, Pogba, um dos maiores meio-campistas do mundo, por unir a fantasia e a habilidade com a técnica e o talento coletivo, tentou fazer uma jogada de efeito, o que é habitual. O comentarista da TV disse que ele não tinha categoria para tanto. Parei, como diria José Trajano.

    Escrevi, na semana passada, que tinha esperança na evolução da seleção brasileira. Quando terminou o primeiro tempo contra o Equador, aumentaram minhas esperanças. O Brasil jogava um bom futebol coletivo, mais compacto que antes e com muita troca de passes. Faltou mais talento individual para fazer gols e mais recuperação da bola no campo do Equador, o que é feito com muito mais frequência por outras seleções sul-americanas. Quando terminou o jogo, diminuíram minhas esperanças, pela queda da equipe.

    Depois de tanta magia e sucesso do futebol brasileiro, é difícil se acostumar com a realidade de que o time pode ganhar a Copa América, se classificar bem para o Mundial e, ao mesmo tempo, não será surpresa, por causa do equilíbrio, se for eliminado no primeiro mata-mata da competição e até perder a vaga para a Copa de 2018. Isso não é mais zebra.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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