Nem durante uma Copa do Mundo assisti a tanto futebol, com jogos pela Eurocopa, Copa América e Brasileirão, ainda mais que estou escrevendo para um jornal português sobre a Eurocopa. Aprendo ou desisto.
Ao ver o belo estúdio do SporTV em Paris, com a Torre Eiffel atrás, me lembrei da Copa de 1998, em que eu e Milton Leite, atual narrador da emissora, transmitimos, pela ESPN Brasil, ao vivo, no estádio, todas as partidas da seleção brasileira.
Antes de a bola rolar na final de 1998, aconteceram dois fatos marcantes. Um, o problema de Ronaldo, que até hoje ninguém, nem ele, sabe se foi uma convulsão ou um piti (síndrome de conversão psicomotora). Outro, a emoção de todos os jogadores e torcedores franceses, cantando o belo hino da França, a Marselhesa. Tive a sensação, na época, de que era impossível ganhar da França. Em 2014, descobri o óbvio, que hino não ganha jogo.
Stefan Zweig, no livro "Momentos Decisivos da Humanidade", conta, em capítulos, fatos que deveriam ser corriqueiros, mas que mudaram a história do mundo. Um deles foi a composição da Marselhesa. Um oficial, tímido e apagado, sem talento musical, recebe do chefe a tarefa de criar um hino de guerra, para influenciar as tropas durante a Revolução Francesa, em 1792. Possuído por uma delirante e genial emoção, ele, à noite, sem dormir, compôs o hino, que inflamou rapidamente toda a França.
Ao ver os jogos da Eurocopa e da Copa América, fica mais evidente que, entre as principais seleções dos dois continentes, não há diferença técnica, ao contrário do enorme distanciamento que há entre os melhores times sul-americanos e europeus, que costumam ser superiores às seleções de seus países, por causa da contratação de grandes jogadores sul-americanos e de todo o mundo.
Mas há ainda diferenças de estilo. As grandes seleções europeias priorizam mais o jogo coletivo, o passe e a posse de bola, enquanto as sul-americanas são mais apressadas para chegar ao gol e usam muito mais o drible e os confrontos individuais. Isso tem mudado. Argentina, Chile e Colômbia, treinadas por argentinos, se aproximam, cada vez mais, do estilo europeu. O Brasil, com Tite, seguirá esse caminho. Os times brasileiros, dirigidos por novos treinadores e por antigos que se renovaram, tentam jogar da mesma forma, de uma maneira moderna.
No Brasileirão, Dagoberto, um dos maiores simuladores de faltas e pênaltis do futebol, enganou novamente o árbitro na marcação de um pênalti a favor do Vitória, que resultou na expulsão do zagueiro Bressan, do Grêmio. Dagoberto é que deveria ter sido expulso, pois já tinha um cartão amarelo.
Hoje, Argentina e Chile decidem a Copa América. Mesmo se a Argentina perder —não ganha um título desde 1993—, mesmo se Messi não for campeão pela seleção principal, mesmo se não fizer um gol tão espetacular em uma Copa, como o de Maradona em 1986, ele, por ser mais regular e brilhar por mais tempo, por ser mais completo (magistral artilheiro e armador), por já ser o maior goleador da seleção argentina, por já ter ganhado cinco vezes o título de melhor do mundo —vai ganhar mais—, tecnicamente, já é o maior da história de seu país, embora saiba que nunca será, para os argentinos, a lenda que é Maradona.
Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.