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    Tostão

    Há muito show de imagens e pouca discussão sobre futebol

    27/07/2016 02h00 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Na seção "Há 50 anos", da Folha de segunda-feira, a manchete era: "Sem atrair torcedores, seleção chega ao Brasil cheia de críticas". O fim do texto falava: "Pelé, caçado na Copa, declarou: 'Não irei em 1970'". Foi, brilhou e conquistou o título. A reação parece a de Messi, após perder o título da Copa América. O fim da história será o mesmo? A expressão "caçado na Copa" não refletia a realidade. Pelé sofreu duas faltas seguidas na derrota para Portugal, mas não foi caçado nesse jogo, nem contra a Bulgária. Essa foi uma boa desculpa para o fracasso do Brasil em 1966. Eu estava lá. Era reserva do Rei.

    Pego uma carona em uma discussão do programa Seleção SporTV para dizer também que Paulo Bento foi dispensado pelo Cruzeiro sem ninguém entender bem o que ele pensa sobre futebol. Tento deduzir. O técnico só falava nas entrevistas tumultuadas pós-jogo, e não vi nenhuma entrevista com ele mais aprofundada.

    A falta de discussões mais detalhadas sobre futebol é mais um entre tantos motivos dos 7 a 1. Quase tudo é superficial, espetaculoso, festivo, um show de imagens. Pouco se debate, a não ser nas reuniões fechadas entre treinadores, onde, socialmente, todos se abraçam, trocam elogios, concordam entre si, tomam cafés com brioches e acham que está tudo bem.

    Paulo Bento organizou o Cruzeiro de uma maneira moderna. A equipe marcava mais à frente, tinha boa posse de bola, criava muitas chances de gol, mas perdia o jogo. Errava demais as finalizações, por falta de confiança e de qualidade, além de sofrer muitos gols em contra-ataques, pois a defesa adiantada deixava muitos espaços, ainda mais que os zagueiros são fracos e lentos. Várias vezes, Paulo Bento escalou e substituiu mal. Com Mano Menezes, o time deve melhorar.

    Reprodução/Twitter
    O Cruzeiro Esporte Clube acertou hoje a contratação do técnico Paulo Bento, ex treinador da seleção de Portugal.
    Paulo Bento em sua apresentação no Cruzeiro

    O Grêmio, dirigido por Roger, não é o melhor time do Brasil —é um dos candidatos ao título—, mas é o que mais gosto de ver, pela aproximação dos jogadores, pela troca de passes, por ser compacto e por atacar e defender com muitos atletas. O volante Maicon, desde a época do São Paulo, é pouco valorizado. Por outro lado, o time faz poucos gols e sofre muitos em bolas paradas. Contra o São Paulo, Negueba jogou muito bem.

    Anos atrás, muito antes dos 7 a 1, quando Negueba começava a jogar pelo Flamengo e já tinha se destacado nas categorias de base da seleção brasileira, escrevi que o Brasil havia se transformado em um país de Neguebas, símbolo do novo jeito de jogar, com jogadores rápidos, dribladores e habilidosos, porém, com pouca lucidez, técnica e inventividade, qualidades essenciais para se formar um craque.

    Entre o grande número de jogadores que se destacam pela habilidade, a velocidade e os dribles, há uma variação de qualidade. Neymar é o melhor deles, o único craque, pois, além dessas características, possui muita técnica, lucidez e criatividade. No Brasileirão, há inúmeros Neguebas, apenas bons jogadores.

    Os treinadores, desde as categorias de base, deveriam mudar o olhar para formar também jogadores mais que apenas habilidosos, dribladores, velozes, que atuam pelos lados e que recompõem muito bem. Faltam os pensadores, os meio-campistas brilhantes, que atuam de uma área à outra e que não dependem tanto das ordens dos professores.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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