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    Tostão

    Chegar dias antes do jogo em local de grande altitude é bom para se adaptar

    31/08/2016 02h00

    Na última semana, morreu Alcindo, o maior artilheiro do Grêmio e companheiro na Copa de 1966. Na época, só se chamava para a seleção jogadores do Rio e de São Paulo. As convocações de um mineiro, um gaúcho e do pernambucano Nado foram tratadas por alguns como imposições da ditadura, para agradar a outros Estados. Falavam ainda que seríamos cortados.

    Eu e Alcindo fizemos uma ótima dupla de ataque no time reserva em vários amistosos e conquistamos nossos lugares. Na Copa, atuamos juntos contra a Hungria. Pelé estava contundido. Além de artilheiro, Alcindo era um jogador inteligente e que facilitava para quem chegasse de trás, como meu caso.

    Ao contrário dos times sul-americanos, as seleções estão muito bem. São seis muito próximas na qualidade técnica e na tabela das eliminatórias, sem falar no Paraguai, que tem os mesmos pontos do Brasil. Diferentemente de Argentina e Brasil, que estreiam técnicos, as outras seleções estão definidas. A cada rodada, haverá mudanças na tabela. Parece o Brasileirão. O Brasil ainda não venceu fora de casa, e as duas vitórias foram sobre seleções mais fracas (Peru e Venezuela).

    Estou curioso para ver a Argentina com Bauza. Como é obcecado pela ordem e por ter jogadores pelos lados que voltam para marcar, é provável que Messi, se jogar amanhã, atue mais pelo meio, formando dupla com o centroavante. Com isso, o talentoso Banega recuaria e passaria a atuar ao lado de Mascherano. A Argentina não terá, nos dois próximos jogos, Agüero, nem Higuaín. Pode ser a chance de Pratto.

    O Equador, especialmente em casa, é um time forte, que joga muito pelos lados, em velocidade, e que usa muito os cruzamentos. Tite deve estar em dúvida se escala Marcelo, mais apoiador, ou Filipe Luís, mais marcador. Outra dúvida é se Neymar vai jogar mais pela esquerda ou mais pelo centro, já que, pela esquerda, teria de voltar para marcar.

    Tite pensa em tudo. Convocou Paulinho –poderia ser Elias– porque ele já sabe como marcar e avançar, se infiltrar e tentar o gol. Tite chamou Giuliano por ter características parecidas às de Jádson, um armador pela direita. Giuliano deve ser o reserva de Willian. Convocou Taison por ser veloz e driblador, como era Malcom, no Corinthians. Em outra coluna, escrevi que tenho receio de que Tite cometa o erro, comum em todas as atividades, de repetir o que deu certo, mesmo em circunstâncias diferentes. Citei o exemplo de Felipão na Copa de 2014. O assessor de imprensa do técnico me mandou uma mensagem por celular, contestando e dizendo que Felipão mudou vários jogadores após a Copa das Confederações. É verdade, mas não mudou o principal, a que eu me referia, a estratégia de jogo.

    A seleção com Tite, ao contrário das anteriores e de quase todos os times brasileiros, chegou dias antes da partida a Quito, a 2.850 metros de altitude, em vez de ir no dia do jogo. Muitos especialistas falam que chegar horas antes da partida diminui os efeitos maléficos. Por outro lado, quem chega dias antes se adapta melhor à velocidade da bola. Gosto mais desta postura.

    Entre as principais virtudes de um time, a maior é a intimidade com a bola, é conhecê-la bem, tratá-la com carinho e ganhar sua confiança. A bola pune quem a trata mal.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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