• Colunistas

    Sunday, 19-May-2024 00:34:44 -03
    Tostão

    Pessoas tentam explicar o jogo pela estratégia dos treinadores

    11/09/2016 02h00

    Apesar do pouco tempo, é evidente a evolução da seleção e do Cruzeiro na maneira de jogar, o que contraria a desculpa pronta da falta de tempo, usada pelos treinadores, para explicar os insucessos.

    Contra a Colômbia, vi o Brasil mais compacto, com mais aproximação para trocar passes, com mais pressão em quem está com a bola para recuperá-la e com mais jogadores atacando e defendendo. São características frequentes, há muito tempo, nas grandes equipes. A Colômbia também jogou dessa forma.

    Ainda mais importante que tudo isso é o talento dos jogadores, especialmente de Neymar. Mais uma vez, ele fez a diferença. Obviamente, quanto melhor o conjunto, mais brilham os craques.

    Cada vez mais, os modernistas e os modernosos tentam explicar o futebol e os resultados quase somente pelo planejamento dos treinadores. Para isso, usam imagens que reforçam as estratégias, como se tudo o que acontecesse em um jogo fosse determinado antes da partida e como se aquele momento destacado se repetisse durante todo o jogo. É o cientificismo no futebol.

    A Alemanha, campeã do mundo em 2014, e a Espanha, bicampeã das Eurocopas de 2008 e 2012 e campeã mundial em 2010, tinham excelentes conjuntos, mas só foram excepcionais porque possuíam vários jogadores entre os melhores do mundo em suas posições. Não tinham um Neymar, mas, na média, eram, individualmente, superiores ao Brasil e a todas as outras seleções.

    A geração atual do Brasil, sem Neymar, não é excelente, nem ruim. Há muitas esperanças de que ela melhore por causa do aparecimento de novos talentos e do crescimento técnico de outros já conhecidos, ainda mais se houver um bom conjunto.

    Se a seleção e o Corinthians, dirigidos por Tite, além de um grande número de ótimos times e seleções, jogam com três no meio-campo (um mais marcador e dois que atacam e defendem), por que quase todas as equipes brasileiras atuam com dois volantes em linha e um clássico meia de ligação, que não participa da marcação? A seleção, com Tite, marca com três pelo meio, em vez de dois, e avança com dois armadores, em vez de um.

    O Palmeiras usa as duas formações, de acordo com o momento. Ricardo Gomes, técnico do São Paulo, contra o Palmeiras, escalou dois volantes marcadores e João Schmidt à frente dos dois, como um meia de ligação, totalmente fora de suas características. O Grêmio tem atuado com três no meio-campo (Wallace, Maicon e Jailson), mais Douglas à frente dos três, formando um losango, formação tática pouco usada atualmente.

    Neymar e Messi vivem situações parecidas. Neymar ainda não é, mas tem boas chances de se tornar, por ser mais completo, o segundo maior jogador da história do futebol brasileiro. Apesar de não ser reconhecido pela maioria como o segundo melhor da história do futebol mundial, Messi, para mim, já é, acima de Maradona, por ser mais completo. Para avaliar um grande craque, mais importante do que brilhar e ser campeão do mundo, um torneio de 30 dias e de quatro em quatro anos, é a média de suas atuações em uma longa carreira.

    Muitos não gostam tanto de Neymar por causa de algumas condutas. Não penso assim, nem acho que os grandes craques precisam ter atitudes exemplares e mostrar o que não são. Eles erram, como a maioria dos seres humanos. São especiais pelo que fazem, por suas obras.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024