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    Tostão

    O risco das vitórias da seleção é impedir a busca de soluções melhores

    05/10/2016 02h00

    Fernando Soutello/Agif/Folhapress
    O técnico Tite convoca os jogadores da seleção brasileira para os jogos diante da Bolívia e Venezuela, pelas eliminatórias da Copa de 2018
    Tite fala durante convocação da seleção brasileira

    Depois de duas semanas de férias em Portugal, onde me encontrei com Fernando Pessoa e José Saramago, passei o fim de semana vendo, para me atualizar, milhares de jogos ao vivo, teipes e programas esportivos, além de cumprir minha obrigação de eleitor, sem entusiasmo. Muito melhor é reencontrar filhos, netos e pessoas queridas.

    Uma das vantagens do Palmeiras sobre o Flamengo é não precisar sempre jogar um futebol agradável para vencer. Ganha também no grito, na correria, na emoção, nas jogadas aéreas. Cuca, às vezes, no momento certo, não respeita os manuais de como jogar um futebol moderno. Ele gosta também de mudar a maneira de jogar e a posição dos jogadores de acordo com o adversário. Outra desvantagem do Flamengo. A principal é não ter uma casa, o Maracanã.

    O Palmeiras é um excelente time em relação aos demais do Brasileiro, mas é fraco em relação às principais equipes mundiais. O time pode ser elogiado ou criticado, de acordo com as referências da competição e da visão do comentarista.

    O bom e equilibrado técnico Zé Ricardo usa pouco Alan Patrick. A justificativa é a de que os jogadores pelos lados recompõem rapidamente e marcam muito. Por outro lado, possuem pouco talento ofensivo. O Flamengo faz poucos gols. O centroavante fica isolado, longe do meia de ligação (Diego) e dos dois pontas, sempre muito abertos. Alan Patrick passa e finaliza muito bem.

    Fiquei mais convicto disso ao ver o ótimo programa "Raio Fox", da Fox Sports, que disseca e discute em profundidade detalhes estatísticos, com as participações do analista de desempenho José Eduardo e do brilhante PVC. Alan Patrick tem números excelentes, surpreendentes.

    A estatística ajuda bastante na compreensão do futebol. Porém, ela é apenas parte do conhecimento, da verdade de um jogo. A estatística não mede a lucidez, a emoção e a subjetividade, fatores decisivos. Nos 90 minutos, há duas partidas. A que, às vezes, enxergamos e analisamos. Outra se passa nas entrelinhas, no saber inconsciente, no imponderável, entre uma ação e outra.

    Amanhã, contra a Bolívia, Fernandinho deve jogar no lugar de Casemiro. Outra opção seria ele fazer a função de Paulinho, suspenso, entrando Rafael Carioca na posição de Casemiro. Apesar da ausência de um grande meio-campista, insisto que é preciso buscar, experimentar, outras soluções melhores que as de Paulinho e de seu provável substituto, Giuliano.

    Willian Arão é, na função de Paulinho, o armador de maior destaque no Brasileiro. Lucas Lima e Philippe Coutinho atuam em funções diferentes em seus clubes, mas poderiam se adaptar. Têm mais talento que Giuliano. O técnico Antonio Conte, do Chelsea, tem escalado Oscar ou Willian na mesma função de Paulinho na seleção. Oscar tem mais características para jogar desta maneira, enquanto Willian tem mais talento ofensivo. Outra opção seria Marcelo (está contundido) no meio-campo, já que Tite tem outro ótimo lateral (Filipe Luís). Depois de Neymar, Marcelo é o jogador com mais habilidade ofensiva.

    O perigo das seguidas vitórias, mesmo com boas atuações, é as pessoas ficarem conformadas, iludidas, e deixarem de buscar outras melhores soluções, que poderiam ser importantes mais à frente. Qualquer ótimo profissional, como Tite, não está imune a isso.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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