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    Tostão

    Mudam-se conceitos por causa de poucos jogos no futebol brasileiro

    12/10/2016 02h00

    Escrevi esta coluna antes do jogo de ontem, contra a Venezuela.

    Impressiona-me, no futebol brasileiro, como se mudam os conceitos e se tiram conclusões definitivas por causa de um ou poucos jogos e de estatísticas de apenas algumas partidas. Após a goleada sobre a Bolívia, alguém me contestou por eu ter dito, antes do jogo, que Giuliano era um bom jogador, mas não para a seleção, como se sua boa atuação, contra a fraquíssima Venezuela, fosse suficiente para mudar a opinião sobre o jogador.

    Impressiona-me também como se dá tanta importância a coisas corriqueiras, clichês, que têm pouca ou nenhuma importância. Passa-se também rapidamente da depressão à euforia. Nas entrevistas coletivas, Tite tem ficado incomodado com tanta badalação e com tantos elogios que recebe.

    Qualquer que tenha sido a atuação contra a Venezuela, já estavam prontos os comentários de que Neymar faz muita falta ou que não faz falta sob o comando de Tite, como se uma partida bastasse para fazer essa avaliação. As seleções do Brasil, da Argentina e de Portugal não precisam de Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo para jogar bem coletivamente, mas precisam demais dos três para decidir os jogos difíceis, contra fortes adversários. Eles são muito melhores que os outros.

    Qualquer que tenha sido a atuação contra a Venezuela, repito o que tenho dito há 20 anos, que o Brasil continua produzindo um grande número de bons e ótimos jogadores, mas que, no meio-campo e no ataque, com exceção de Neymar, desapareceram os foras de série, especiais, presentes nas listas dos melhores do mundo em suas posições. A geração é boa, mas não é excepcional. Outro fato importante nos últimos anos foi a pobreza de ideias, antes de Tite.

    Qualquer que tenha sido a atuação contra a Venezuela, o Brasil possui muitos bons jogadores pelos lados (Douglas Costa, Philippe Coutinho e Willian), uma grande promessa no ataque (Gabriel Jesus), além de zagueiros e laterais no nível dos melhores do mundo, como Thiago Silva, Daniel Alves, Marcelo e Filipe Luís. Mas ainda faltam um grande goleiro, como Neuer, Courtois e Buffon, um excepcional centroavante e, principalmente, um craque no meio-campo.

    Fernandinho é o melhor dos armadores, seja na posição de Casemiro ou na de Paulinho. Ele sempre jogou bem na Inglaterra, melhor ainda agora, sob o comando de Guardiola, no Manchester City. Foi mal apenas na Copa, junto com toda a equipe.

    Qualquer que seja a atuação contra a Venezuela, tenho muitas esperanças de que o Brasil forme uma ótima seleção nos próximos anos, com chances de ganhar a Copa, mesmo sem estar no nível dos melhores times de sua história, ainda mais que todos os grandes adversários também possuem deficiências.

    Estou otimista, até demais. Preciso me conter, para não entrar para a turma do oba-oba nem dos otimistas tendenciosos.

    Por falta de amplas discussões reflexões e reconhecimento de seus inúmeros problemas, dentro e fora de campo, o Brasil ficou mais de dois anos em depressão, luto, após a tragédia do 7 a 1. Não precisava durar tanto tempo. Será que o luto está chegando ao fim, com o enterro do futebol dos últimos 20 anos e a chegada de uma nova era? Tomara.

    O tempo trará as respostas. Ele está muito à frente de nossa sábia ignorância.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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