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    Tostão

    Teoria de tudo

    27/11/2016 02h00

    O normal e o correto seria que um ex-atleta começasse sua carreira de treinador pelas categorias de base ou por um time pequeno. Rogério Ceni é exceção. Ele possui qualidades e características, além de ter se preparado, desde que começou a jogar, para ser um ótimo técnico, do São Paulo ou de qualquer equipe.

    É uma situação parecida com a de um jovem de muito talento. Ele não precisa esperar chegar aos 20 anos para entrar na equipe principal. Se Rogério não der certo, ele vai para outro clube. Ele e o São Paulo não deveriam ficar agarrados por toda a vida. O torcedor não vai deixar de tê-lo como ídolo, se ele não for bem, nem Rogério deixará de ter um grande afeto por seu clube.

    Mudo de assunto. Comentaristas de futebol, me incluindo, e de todas as áreas costumam torcer, apaixonadamente, para suas opiniões estarem certas. Alguns vão dizer depois: "Não falei"? O orgulho e a vaidade são sentimentos frequentes, toleráveis, às vezes, positivos. Analistas gostam também de procurar fatos, imagens, estatísticas, que ele acha que confirmam suas teses, mesmo que não tenham importância. Mais que isso, buscam um detalhe, a chave que explique tudo o que aconteceu em uma partida. É a teoria de tudo.

    Uma maneira acessível de tentar descobrir o mistério do jogo é pinçar uma das mil condutas dos treinadores. Por isso e por outros motivos, os técnicos são supervalorizados e se tornam os grandes responsáveis pelas vitórias, derrotas e atuações das equipes. As análises das partidas passaram a ser feitas a partir da conduta dos treinadores.

    Após a vitória sobre a Argentina, Tite explicou que, durante o jogo, mudou Paulinho de posição para ele marcar Messi, já que Fernandinho tinha recebido o cartão amarelo. Conduta correta, porém habitual entre os treinadores nessa situação. Alguns comentaristas disseram que foi uma tacada genial do técnico, a chave do jogo.

    Comentaristas se preparam para o jogo e costumam ter um comentário pronto. Antes da partida entre Atlético-MG e Grêmio, já havia um discurso pronto de que seria o confronto entre as individualidades do Atlético-MG contra o jogo coletivo do Grêmio. Como assim? Geromel, Maicon e Walace são muito melhores que todos os zagueiros e volantes do Galo. Luan é tão importante quanto Robinho e Pratto. Douglas e Pedro Rocha são bons jogadores. O lateral-direito Carlos César é fraquíssimo. Hyuri, que entrou no segundo tempo, nunca fez uma partida razoável pelo Galo.

    A deficiência do Grêmio, principal razão da saída de Roger, foi a de ter um elenco pequeno e sem bons reservas. Contra o Atlético-MG, todos os titulares estavam em campo. Após Roger, o clube contratou um zagueiro alto, forte e bom nas jogadas aéreas, o argentino Kannemann. Isso diminuiu a deficiência do Grêmio nas boas altas.

    Coletivamente, foi um confronto entre o futebol atual, bonito e eficiente do Grêmio, formado por Roger e reforçado pela vibração e autossuficiência de Renato, contra o futebol dos anos 1980 e 1990 do Galo, com enormes espaços entre os setores e apenas dois jogadores que marcavam no meio-campo.

    Renato Gaúcho tem tido boas condutas, é vaidoso, mas teve a grandeza e a humildade de manter o estilo e a estratégia da época de Roger. Já ele dizer que foi melhor que Cristiano Ronaldo é muita prepotência. São as contradições humanas.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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