• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 09:21:08 -03
    Tostão

    Confusões no Mundial mostram que árbitro de vídeo não vê tudo

    18/12/2016 02h00

    Toshifumi Kitamura/AFP
    Kashima Antlers midfielder Shoma Doi (R) scores a penalty goal during the Club World Cup football semi-final match between Colombia's Atletico Nacional and Japan's Kashima Antlers at Suita City stadium in Osaka on December 14, 2016. / AFP PHOTO / TOSHIFUMI KITAMURA ORG XMIT: KIT078
    Shoma Doi bate pênalti marcado com auxílio do vídeo e abre placar para o Kashima contra Nacional

    Quase todos concordam com o uso da tecnologia para saber se a bola entrou ou não no gol. A dúvida é se o vídeo deveria ser usado, de rotina, em lances de impedimento e de pênaltis que o árbitro não
    vê ou que vê e marca errado.

    No primeiro gol do Kashima Antlers contra o Atlético Nacional, pelo Mundial de Clubes, o árbitro de campo, com o auxílio do árbitro de vídeo, marcou um pênalti a favor dos japoneses. O vídeo mostrou ainda que o jogador que sofreu a falta estava em impedimento, embora não participasse da jogada, e que ele, talvez, tenha feito uma falta antes de sofrer o pênalti. Tudo muito confuso. O gol foi importante
    para a vitória do Kashima.

    No segundo gol do Real Madrid sobre o América, do México, o árbitro de campo, corretamente, deu o gol, mas voltou atrás, marcou impedimento e, depois, validou o gol novamente. O árbitro de vídeo atrapalhou mais do que ajudou.

    Nas duas situações, a bola seguiu em jogo durante bom tempo, no intervalo entre a decisão do árbitro de campo e a do árbitro de vídeo. Se saísse um gol nesse período, seria um tremendo tumulto. A decisão do árbitro de vídeo tem de ser imediata, instantânea e rapidamente cumprida ou não pelo árbitro de campo.

    Se havia uma ilusão de que o vídeo tiraria todas as dúvidas e que evitaria erros decisivos dos árbitros, ela acabou nos dois jogos. Nos anos 1960, quando o videoteipe começou a ser usado, Nelson Rodrigues dizia, com ironia, que o vídeo era burro.

    Se estivesse vivo, falaria hoje a mesma coisa. O árbitro de vídeo não vê tudo. Ele também erra.

    Penso que o árbitro de vídeo deveria atuar só nas grandes dúvidas, polêmicas, decisivas, raras de acontecer, como se a bola entrou ou não, uma agressão fora do lance. Tenho dúvidas se deveria também ser usado na marcação de pênaltis, por ser um lance fatal, que pode mudar a história de uma partida.

    Imagine um bololô na área, com várias infrações. O árbitro de vídeo vai entrar em pânico e, se quiser ser mais realista que a realidade, vai marcar tudo, e o jogo vai ficar muito tempo parado.

    A fase é de adaptação, de treinos, de aprendizado dos dois árbitros, mas essa experiência deveria começar em partidas sem importância.

    No fim dos anos 1990, comentei, ao vivo, no estádio, pela televisão, um jogo, em São Paulo, que servia de experiência para a mudança na regra do impedimento, que passaria a existir somente a partir de uma linha imaginária até as laterais, que seria a extensão da marcação da grande área. Não haveria impedimento a partir do meio-campo até a grande área. O jogo ficou um horror. Virou outro esporte. Quando um time perdia a bola, todos iam para perto do gol. Desistiram.

    O Atlético Nacional, como se esperava, foi superior ao Kashima, mas perdeu por errar demais as finalizações e por causa do árbitro de vídeo. Ainda assim, a derrota do time, assim como as recentes do Atlético-MG para o Raja Casablanca, do Marrocos, e do Inter para o Mazembe, do Congo, mostram que a diferença técnica entre os times sul-americanos e os de outros continentes, fora os da Europa, é pequena.

    Já a diferença entre os grandes clubes europeus e os de outros continentes é enorme. Será uma grande zebra se o Kashima vencer hoje o Real Madrid, a não ser que o árbitro de vídeo entre em campo e faça algumas trapalhadas.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024