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    Tostão

    Maior número de jovens e estudiosos técnicos é uma boa novidade no Brasil

    01/02/2017 02h00

    Armando Paiva/Agif/Folhapress
    Técnico Tite comanda treino da seleção brasileira no Engenhão, no Rio
    Técnico Tite comanda treino da seleção brasileira no Engenhão, no Rio

    Após o 7 a 1, em uma reação contra a tragédia, houve um aumento progressivo de jovens treinadores nos principais times brasileiros. Todos possuem características parecidas. São obcecados pela informação, conhecem os detalhes da maneira de jogar das grandes equipes e sabem da enorme importância de ter científicas comissões técnicas.

    Alguns técnicos mais experientes, como Tite, Mano Menezes, Dorival Júnior e Paulo Autuori, incorporaram, antes da chegada dos novos e jovens treinadores, a evolução na maneira de jogar que aconteceu nas grandes equipes europeias.

    O conhecimento científico dos atuais jovens treinadores não significa que, necessariamente, se tornarão ótimos profissionais. Terão também de ser bons observadores, capazes de enxergar o que não está nos manuais, de tomar decisões rápidas e corretas durante as partidas, além de saber comandar grupos de atletas.

    O conhecimento vai muito além da informação, e a competência profissional vai muito além do conhecimento.

    A discussão entre os técnicos intuitivos e os mais científicos começou a partir da Copa do Mundo de 1970. Os acadêmicos Cláudio Coutinho, supervisor da seleção, e o preparador físico Parreira influenciaram o técnico Zagallo sobre a importância do planejamento e da chegada da ciência esportiva. Por outro lado, Zagallo os ensinou a observar os detalhes técnicos subjetivos e objetivos do jogo. Os dois olhares se completam. Coutinho e Parreira se tornaram treinadores importantes do futebol brasileiro.

    Após um longo período de mediocridade, antes do momento atual, com excesso de jogadas aéreas e de chutões, pouca troca de passes, de valorização de volantes apenas marcadores, de laterais que corriam isolados pela ponta para cruzar a bola na área e de tantos outros detalhes, há uma mudança progressiva na maneira de jogar, que começou com Tite e Mano Menezes, no Corinthians. O time campeão do mundo em 2012 parecia uma pequena e rígida equipe inglesa, especialmente na marcação. Tite evoluiu e fez do Corinthians campeão brasileiro de 2015 um time moderno na defesa e no ataque. Isso continua na seleção.

    Diferentemente dos treinadores anteriores, que não diziam nada nas entrevistas, por não quererem ou por não saberem ou porque se sentiam muito sábios para serem compreendidos, os atuais jovens técnicos dão boas explicações técnicas e táticas. Por outro lado, há uma tendência a serem pragmáticos, repetitivos, com excesso de regras. Estão criando uma nova terminologia, moderna, para o futebol, com novos chavões e novos lugares comuns. A diversidade é essencial.

    Tite, por seu sucesso, especialmente na seleção, é tratado como um guru, um sábio. Tudo o que diz, com seu jeito professoral e pastoral, é aplaudido, mesmo as coisas óbvias e rotineiras, comuns também no discurso dos gestores de outras áreas. É um discurso de bom senso, como se fosse um manual de regras de comportamento e de competência.

    Tite é um excelente treinador porque se preparou tecnicamente, aprendeu com as experiências boas e ruins, é irrequieto, está sempre atrás de novos conhecimentos e porque se incomoda com tanta bajulação que recebe e com as afirmações apressadas de que o Brasil tem novamente a melhor seleção do mundo.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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