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    Tostão

    Não aprende quem não quer no futebol e na vida

    05/04/2017 02h00

    Apesar da falha do goleiro Giovanni, do Atlético-MG, nos primeiros minutos da partida, do impedimento de Thiago Neves no segundo gol e da merecida expulsão de Fred, o Galo perdeu também por seus erros e pelas virtudes do Cruzeiro. O elenco do Atlético-MG não é tão bom quanto dizem. Já o do Cruzeiro, menos badalado, é superior, por ter dois bons jogadores quase do mesmo nível em todas as posições.

    O volante Elias fez um gol, no fim, em seu estilo, entrando na área para finalizar, como fazia no Flamengo e no Corinthians. Porém, ele tem avançado muito menos do que antes. Sob o comando de Tite, o Corinthians jogava com três no meio-campo, sendo um volante mais marcador e um meio-campista de cada lado, Elias e Renato Augusto, que marcavam e atacavam. Isso facilitava para Elias chegar à frente. É o que ocorre com Paulinho e Renato Augusto, na seleção.

    Com três no meio-campo, as equipes marcam com três, quando perdem a bola, e, quando a recuperam, dois avançam. No Atlético-MG e na maioria das equipes brasileiras que jogam com uma linha de dois volantes e um meia ofensivo, o time defende com dois e avança com apenas o meia de ligação. Isso facilita a marcação adversária.

    Nos últimos jogos da seleção, Paulinho, mais ainda que antes, tem sido mais ofensivo, e Renato Augusto ainda mais organizador e marcador, ao lado de Casemiro. Na saída de bola da defesa, Paulinho, em vez de receber a bola como um meio-campista, com frequência avança e se torna um atacante, um pivô, como nos dois passes de calcanhar que deu, perto da área, para gols.

    Evidentemente, não é o sistema tático a única nem principal razão das boas atuações da seleção, e sim vários outros detalhes, como a estratégia de aproximação, de troca de passes, de triangulações e de rápida recuperação da bola, o que o Corinthians já fazia com Tite, que aprendeu com os grandes da Europa.

    Se Diego e Willian Arão atuassem mais próximos e se alternassem na marcação e no apoio, o Flamengo poderia ficar melhor, mais surpreendente, além de facilitar para Arão avançar, o que ele faz muito bem. A dificuldade é que Diego sempre foi um clássico meia de ligação, sem participar da marcação.

    O Palmeiras, campeão brasileiro do ano passado, jogava quase sempre como a seleção, com três no meio-campo (um volante mais marcador, mais Tchê Tchê e Moisés). Hoje, a equipe tem alternado essa formação com a de dois volantes e um meia, como no último jogo, com Dudu centralizado. Prefiro ele pela esquerda, onde tem mais espaços e de onde parte, em diagonal, para o centro, como Neymar no time nacional.

    O Palmeiras possui o melhor elenco do futebol brasileiro, superior ao do ano passado, com as contratações de Felipe Melo, Borja e outros. Felipe Melo, Casemiro e Fernandinho, os três melhores ditos primeiros volantes do futebol brasileiro, além de marcarem muito aprenderam na Europa a dar passes rápidos para frente e, às vezes, mais longos, o que dificulta a marcação rival.

    Os europeus também aprenderam muito com os brasileiros. Cada continente tem suas particularidades, que devem ser respeitadas e valorizadas, sem arrogância. O conhecimento é globalizado. Muitos acham que sabem tudo e desprezam opiniões diferentes, ainda mais se forem de fora. Só não aprende quem não quer.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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