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    Tostão

    Algumas equipes são excessivamente táticas, repetitivos e sem alma

    21/05/2017 02h00

    Michael Buholzer/AFP
    Real Madrid's French coach Zinedine Zidane arrives for The Best FIFA Football Awards 2016 ceremony, on January 9, 2017 in Zurich. / AFP PHOTO / MICHAEL BUHOLZER
    O Real Madrid do ex-jogador e técnico Zinedine Zidane é forte candidato ao bi da Liga dos Campeões

    Se o Real Madrid ganhar hoje o título espanhol, o que é provável, Zidane será campeão do país. E ainda é forte candidato ao bi da Liga dos Campeões.

    Zidane vai contrariar uma recorrente opinião, um preconceito, de que grandes craques não se tornam grandes técnicos, e que ex-atletas não costumam ter preparo cultural e acadêmico para serem gestores de jogadores e para comandarem amplas e científicas comissões técnicas. O preconceito é ainda maior se o técnico for negro, por, geralmente, vir de família pobre, com menos acesso aos estudos.

    Há também o preconceito inverso, o de que quem não foi atleta profissional não tem a vivência do gramado e que não seria capaz de enxergar bem os detalhes técnicos e táticos para ser um ótimo treinador.

    Existem grandes treinadores que não foram atletas e muitos ex-atletas que se tornaram excelentes treinadores. Todos eles precisam estudar.

    Zidane tem mostrado muita competência no comando de tantos craques. Ele tem poupado os titulares, inclusive Cristiano Ronaldo, para tê-los bem fisicamente nos momentos decisivos. A qualidade do elenco facilita para o técnico.

    Muitos vão dizer que ser técnico de grandes craques é muito fácil. Não é bem assim. Uma das grandes dificuldades de um técnico é unir vários craques para formar um ótimo conjunto, ainda mais quando há mais de um em cada posição.

    Se o Real não for campeão hoje, Zidane será criticado, como tem sido Zé Ricardo. O treinador e o time do Flamengo, que eram excessivamente elogiados, agora são bastante contestados. Não foi surpresa a derrota, fora de casa, para o San Lorenzo, um time que está em ascensão.

    Da mesma forma, não foi também surpresa a vitória do Atlético-PR sobre a Universidad Católica. Havia um equilíbrio no grupo.

    O desabafo de Paulo Autuori após a vitória do Furacão tem a ver com a prática de achar tudo ótimo quando ganha e tudo péssimo quando perde. Falo disso há séculos. Há também o outro lado. Quando a imprensa elogia, os elogiados adoram. Quando a imprensa critica, se queixam.

    Autuori é um técnico com muitos conhecimentos, sério e que tem senso crítico. Por contestar a CBF, o que é raro entre os treinadores, é criticado pelos amigos da entidade.

    A relatividade da exagerada importância dada às condutas dos treinadores —algumas são decisivas— não é motivo para não tentar explicar os fatos e para não apontar acertos e erros do treinador. Isso é obrigação dos analistas.

    Como disse Tim Vickery, no Redação SporTV, os zagueiros do Flamengo e de quase todos os times brasileiros jogam muito recuados, o que permite a pressão do time da casa e os gols em jogadas aéreas.

    Há também um vazio no meio-campo do Flamengo, pois os volantes marcam atrás, para não deixar espaços entre eles e os zagueiros, os jogadores pelos lados estão sempre abertos, e o centroavante, fixo na frente. Essa deficiência é minimizada com a presença de Diego, que se movimenta e gosta de ficar com a bola.

    Por causa do desenvolvimento da ciência esportiva e da obsessão pela informação e pelo planejamento, muitos times, em todo o mundo, se tornaram excessivamente táticos, programados, previsíveis, repetitivos e frios.

    Parece um jogo de xadrez. Falta, algumas vezes, mais emoção, transgressão e ruptura com o habitual.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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