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    Tostão

    O futebol está mal dividido entre pragmáticos e raros sonhadores

    01/10/2017 02h00

    Heuler Andrey/AFP
    Goalie Alex Muralha (L), of Brazil's Flamengo gestures after Thiago Heleno (R) from Brazil's Atletico Paranaense celebrates a goal during the 2017 Libertadores Cup football match at the Arena da Baixada stadium in Curitiba on April 26, 2017. / AFP PHOTO / Heuler Andrey
    Goleiro Muralha, do Flamengo, usou tática criticada nos pênaltis durante a final da Copa do Brasil

    Após o Cruzeiro sofrer três gols contra o Palmeiras, pela Copa do Brasil, quando ganhava por 3 a 0, Mano Menezes disse que o time não levaria mais tantos gols em uma só partida, como aconteceu. Diferentemente dos outros grandes times que, em casa, pressionam o adversário em uma decisão, o Cruzeiro teve, contra o Flamengo, muitos cuidados defensivos, o que já tinha ocorrido contra Palmeiras e Grêmio, com sucesso, também pela Copa do Brasil.

    A estratégia de Mano foi desnecessária ou foi a melhor maneira de ser campeão, já que a equipe não é nenhuma maravilha e enfrentava um time do mesmo nível? Se o Flamengo vencesse nos pênaltis, Mano seria bastante criticado, por falta de ousadia.

    Muitos comentaristas e torcedores ironizavam, antes da partida, que a tática de Mano era empatar, porque, nos pênaltis, seria certa a conquista do título. Mauro Cezar Pereira, independente e brilhante jornalista esportivo, fala, há muito tempo, que Muralha é muito ruim para defender pênaltis. Já foi o tempo em que a responsabilidade era apenas do cobrador e que o pênalti bem batido sempre entrava. Os goleiros evoluíram muito e são também decisivos.

    Depois da partida, Fábio disse que recebeu todas as informações da comissão técnica sobre a maneira de cobrar dos jogadores do Flamengo, mas que decidiu o canto no momento, pois os batedores variavam o lado a cada cobrança. Já Muralha, orientado dentro do clube, adotou a tática amadora, de contar com a sorte, de ir sempre para o mesmo canto. Evidentemente, Muralha não é o culpado pela perda do título. Todos poderiam ter feito melhor. Diego, repito, bom jogador, possui mais prestígio do que joga.

    Cruzeiro e Flamengo fizeram uma partida ruim e equilibrada. Como é habitual no futebol brasileiro, marcaram muito bem atrás, mas não conseguiram chegar à frente com muitos jogadores, trocando passes, até o gol.

    Faltou uma estratégia mais ousada e, principalmente, mais talento individual.

    As melhores equipes do mundo, além da enorme superioridade individual sobre os grandes times brasileiros, alternam a marcação mais recuada com a mais adiantada, pressionando e tentando recuperar a bola mais perto do outro gol e/ou onde a perderam. Outra postura é a de marcar, no campo do adversário, a saída de bola do goleiro, obrigando-o a dar chutões. As equipes brasileiras raramente usam essas duas estratégias.

    A marcação com duas linhas de quatro começou em 1966, com os ingleses, campeões do mundo. Durante décadas, era proibido jogar assim no Brasil, porque era considerada uma megarretranca. Hoje, é moderno.

    O futebol, em todo o mundo, está mal dividido, entre os treinadores pragmáticos, utilitaristas, a maioria absoluta, que se contentam com a vitória, e os raros treinadores sonhadores, ousados, que querem vencer e brilhar. As duas posturas são necessárias e eficientes, mas existe um amplo domínio, uma ditadura dos pragmáticos. A diversidade é fundamental.

    Segundo o novo dicionário futebolês, existem os times que propõem o jogo, que tomam a iniciativa, e os reativos, que adoram um contra-ataque; os que gostam de ter a bola e os que não gostam; os que entregam ou não entregam o que prometeram; os que trocam muitos passes e os que têm um estilo vertical, agudo - vertical seria para o alto- e dezenas de outras expressões.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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